Folha de S. Paulo


Com quase 4 horas de atraso, começa reconstituição do caso Amarildo

Inicialmente marcada para começar às 15h deste domingo (1º), a reconstituição para esclarecer o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, 43, na comunidade da Rocinha, zona sul do Rio, teve início às 18h45.

O atraso ocorreu após um desencontro entre os 20 policiais militares lotados na noite do desaparecimento e a equipe da Polícia Civil responsável pela investigação. Os PMs chegaram ao local às 12h e esperaram até as 15h55 os agentes da Divisão de Homicídios da Capital (DH), que chegaram às 16h10.

O titular da DH, delegado Rivaldo Barbosa, negou o atraso, e começou a reconstituição com o retorno dos policias militares à comunidade. "Se de alguma forma a falta de luz natural vier a inviabilizar qualquer ato voltaremos aqui para fazer novamente o que for necessário".

A imprensa não irá acompanhar os trabalhos da polícia, que vão iniciar a simulação pela localidade conhecida como Cachopa. Depois a equipe irá até a casa onde Amarildo morava, passarão por um bar e finalizam a reconstituição na sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

"Esses passos retratam fielmente uma ordem cronológica dos fatos. São deslocamentos que vão dar uma ideia do que aconteceu nesse trajeto", disse Barbosa.

Os familiares de Amarildo irão acompanhar a reconstituição. Entre os 20 policiais militares, dois estarão encapuzados. Eles fizeram esse pedido ao delegado para não serem identificados, já que são moradores de favelas.

Os trabalhos não têm previsão de término. "Serão feitas várias simulações para que a gente possa esclarecer dúvidas e omissões referentes ao que foi apurado até agora pela Divisão de Homicídios", afirmou o delegado.

O desaparecimento de Amarildo gerou uma série de protestos no Rio e em outras capitais, como São Paulo, no mês passado. Segundo a polícia, uma das 80 câmeras instaladas na favela mostra o pedreiro entrando no carro da PM, próximo à rua 2, no interior da comunidade, e seguindo para a sede da UPP.

Na noite do dia 14, apenas duas câmeras não funcionavam na favela da Rocinha, de acordo com policiais civis. Justamente as duas instaladas diante da sede da UPP.

A cúpula de segurança do Rio informou no mês passado que trabalha com a hipótese de que o pedreiro esteja morto. Cinco policiais da UPP da Rocinha são investigados por tortura e abuso de autoridade contra moradores da favela. Entre eles estão o comandante da unidade, major Edson Santos, e os soldados Rodrigo de Macedo Avelar da Silva e Douglas Roberto Vital Machado, também investigados pelo desaparecimento de Amarildo.

Os outros PMs acusados de tortura e abuso são Luciano Silva de Carvalho e Vitor Luiz Evangelista. O Ministério Público pede a expulsão deles da PM, além da suspensão do porte e o recolhimento das armas. O caso foi denunciado à 15ª Promotoria de Investigação Penal da 1ª Central de Inquéritos.

O Ministério Público, junto à Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania, também analisa uma proposta de ação civil pública contra os cinco PMs.


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