Folha de S. Paulo


Bombeiros encontram corpo de última vítima em desabamento em SP

Os bombeiros localizaram na tarde desta quinta-feira o corpo da última vítima do desabamento de um prédio da zona leste de São Paulo. O acidente ocorreu na terça-feira (27) e o corpo de Antônio Wellington era o único que permanecia desaparecido.

A localização do corpo de Wellington ocorreu cerca de 55 horas depois do desabamento. Ao todo, 10 pessoas morreram e 26 ficaram feridas.

Na manhã de hoje, já tinha sido localizado o corpo do operário Claudemir Viana. Um outro funcionário, que sobreviveu ao desabamento, voltou mais cedo ao local para auxiliar as buscas por Wellington. Rubens Moreno Feitosa, 24, apontou aos bombeiros o local onde estava o colega no momento da queda.

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Feitosa foi localizado após falar com os bombeiros pelo celular, ainda nos escombros. Ele foi atendido no Hospital Santa Marcelina, mas recebeu alta no mesmo dia do acidente.

O imóvel que desabou tinha dois pavimentos e ficava na avenida Mateo Bei, altura da rua Margarida Cardoso dos Santos. No local estava em construção uma loja de roupas. Antes, o endereço abrigava um posto de gasolina.

IRREGULAR

A prefeitura informou logo após o acidente que o local estava irregular e que os responsáveis já tinham sido multados duas vezes. Embargada, a construção não poderia ter continuado. Com isso, a prefeitura diz que vai apurar, por sindicância, por que não foi feito um boletim de ocorrência registrando o embargo.

Já ontem, a administração municipal afirmou que a planta do prédio apresentada à prefeitura no pedido de alvará mostrava apenas um andar no imóvel, apesar dele ter dois.

A planta foi apresentada pela arquiteta Rosana Januário Ignácio e aponta a construção de um pavimento com três divisões --três lojas. O pedido de Alvará de Aprovação de Edificação Nova foi indeferido em 27 de maio de 2013. Alguns dias depois, ela teria apresentado um pedido de reconsideração e uma outra planta, de dimensões e especificações diferentes.

A administração acrescentou ainda que "a empresa Salvatta Engenharia também não havia solicitado autorização para qualquer obra, reforma, mudança estrutural ou escavação de solo no imóvel". Ontem, o advogado Edilson Carlos dos Santos, que representa o proprietário do imóvel, afirmou que foram feitas escavações no local.

A nota da prefeitura diz ainda que "não consta também pedido no Contru (que controla o uso dos imóveis) para construção de elevadores ou escadas rolantes", em resposta a outra afirmação do advogado que disse que esse tipo de equipamento estava sendo instalado no local.

A reportagem tentou falar com a arquiteta por telefone, mas ela não se manifestou. Já a Salvatta Engenharia afirmou que ainda não teve conhecimento oficial das afirmações da prefeitura e que só irá se manifestar quando for notificada judicialmente.

Editoria de arte/Folhapress
Desastre São Mateus
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MUDANÇA

Após a tragédia, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse hoje que a cidade precisa de um novo Código de Obras. Segundo o chefe do executivo, as conversas sobre a proposta já estão avançadas dentro da prefeitura.

Haddad disse que o novo código, que regulamenta as construções e as reformas na cidade, só deverá ficar pronto após a aprovação do novo Plano Diretor da capital, que será encaminhado para votação na Câmara em setembro.

"São Paulo precisa de novos mecanismos de fiscalização. Se nas discussões da revisão do Código de Obras nós pudermos incluir novos instrumentos [de fiscalização], nós faremos isso para aperfeiçoar o trabalho das subprefeituras", disse.

Pelo código atual, o fiscal deveria acionar a polícia caso percebesse o descumprimento do embargo, mas isso não ocorreu. Haddad, não explicou o que mudaria no código, só fez referencias a um aprimoramento da fiscalização.

Cumprindo agenda na zona sul de São Paulo, o prefeito estava acompanhado do secretário Chico Macena (Coordenação das Subprefeituras) que afirmou ser "humanamente impossível fiscalizar todas as obras da cidade".

De acordo com Macena, São Paulo tem um deficit histórico na fiscalização. "O caminho é responsabilizar cada vez mais o proprietário e os responsáveis pela obra. Eles precisam ser os 'fiscais' da obra", disse o secretário.


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