Folha de S. Paulo


Opinião: Silêncio de entidades sobre ataque a cubanos é 'perturbador'

É despropositada a fúria com que os médicos estrangeiros, especialmente os cubanos, foram recebidos pelos "colegas" brasileiros.

A cena do cubano vaiado por duas moças de jaleco branco envergonha o país. E deveria envergonhar também a categoria médica.

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Diante dessas hostilidades, o silêncio das entidades médicas nacionais é, no mínimo, perturbador. Ou será que concordam com isso?

Ainda que se pesem as inconsistências do programa "Mais Médicos", que o governo federal empurrou goela abaixo dos médicos, os cubanos nada têm a ver com isso.

São profissionais formados, convidados para um trabalho de três anos. Se foram dispensados do exame de revalidação do diploma, o problema não é deles.

Se dão uma parte do salário ao governo cubano e vivem em condições análogas à escravidão, essa é uma questão para outros fóruns.

Por que não há grita semelhante para a inexistência de um exame nacional que freie a entrada de médicos malformados no mercado?

Está na hora de qualificar esse debate sobre a distribuição desigual de médicos pensando no que é melhor ao paciente. Há várias experiências internacionais que poderiam servir de inspiração.

Mas para isso é preciso que o governo esqueça as eleições de 2014. E os médicos lembrem-se de que, ao fazerem o juramento de Hipócrates, prometem ser fiéis ao doente, não ao corporativismo.


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