Folha de S. Paulo


Fomos vítimas da irresponsabilidade do dono do imóvel, diz empresa de engenharia

Contratada para avaliar as condições do prédio que desabou hoje em São Mateus (zona leste de São Paulo), a Salvatta Engenharia disse em nota ter sido vítima "da irresponsabilidade dos proprietários" do imóvel. A nota também é assinada pelo Magazine Torra Torra, que contratou a empresa.

As declarações foram dadas após Edilson Carlos dos Santos, advogado do dono do imóvel, ter dito que a Salvatta fez escavações que "mexeram" na estrutura do lugar.

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De acordo com o texto do Torra Torra e da Salvatta, a responsabilidade pela construção foi do dono do prédio. "As chaves do imóvel ainda não foram entregues pelo proprietário, porque as obras a que se obrigou não foram concluídas. Também não houve a entrega do Alvará de Construção e nem do Projeto Executivo", diz trecho da nota.

Segundo o comunicado, a Salvatta prestava serviço no prédio havia 16 dias para saber em que condição estava o imóvel e para iniciar os serviços de acabamento. "Não foi realizada qualquer intervenção por parte da Salvatta na estrutura do imóvel, o que será devidamente comprovado pela perícia."

As duas empresas disseram estar à disposição das autoridades e deram a entender que irão à Justiça --falam em "medidas legais"-- contra os responsáveis pelo prédio.

O imóvel tinha dois pavimentos e ficava na avenida Mateo Bei, altura da rua Margarida Cardoso dos Santos. Ao todo, cerca de 35 pessoas estavam no prédio. Até o momento, seis mortes foram confirmadas, além de 24 feridos. As buscas continuam no local.

Confira a íntegra da nota:

"O Magazine Torra Torra informa que o imóvel que desabou nesta manhã, em São Paulo não era de propriedade da rede. Nem foi construído pela empresa. O imóvel foi alugado, obrigando-se o proprietário a construir o prédio e entregá-lo em condições de segurança para o uso a que se destina, conforme estabelece a lei de locação. Dessa forma, o responsável pelo imóvel e pela obra é o proprietário e construtor do prédio.

As chaves do imóvel ainda não foram entregues pelo proprietário, porque as obras a que se obrigou não foram concluídas. Também não houve a entrega do Alvará de Construção e nem do Projeto Executivo. Antes de receber o imóvel, o Magazine Torra Torra contratou a empresa Salvatta Engenharia para avaliar as condições de uso e segurança do mesmo, procedimento padrão que a empresa adota em todas as suas lojas. A Salvatta também seria responsável pelos serviços de acabamento.

Há 16 dias, a Salvatta Engenharia prestava serviço para o Magazine Torra Torra no prédio com a finalidade de avaliar as condições de uso do imóvel, bem como iniciar os serviços de acabamento.

Tanto o Magazine Torra Torra quanto a Salvatta Engenharia consideram-se também vítimas da irresponsabilidade dos proprietários e estão à disposição das autoridades para colaborar na apuração dos fatos, bem como tomarão todas as medidas legais que se fizerem necessárias contra os responsáveis."

Editoria de Arte/Folhapress

ALVARÁ

Segundo a Prefeitura de São Paulo, a obra que desabou não tinha alvará necessário para construção. De março para cá, o empreendimento já tinha sido multado duas vezes.

Em 13 de março, a Subprefeitura de São Mateus emitiu um auto de intimação e um auto de multa --no valor de R$ 1.159-- por falta de documentação no local da obra. No dia 25 do mesmo mês, a subprefeitura emitiu outra multa pelo não cumprimento da intimação anterior, no valor de R$ 103.500, e embargou a obra.

No dia 10 de abril, os engenheiros responsáveis apresentaram o pedido de Alvará de Aprovação de Edificação Nova na subprefeitura. Porém, não foi pedido o alvará de execução da obra. Mesmo assim, eles deram início às construções. Os engenheiros recorreram das multas, o que ainda está sendo analisado pela prefeitura.

"De acordo com o Código de Obras, a obra só poderia ter sido iniciada, mesmo sem resposta da subprefeitura, caso tivessem decorridos os prazos dos dois pedidos, ou do pedido conjunto (alvará de aprovação e alvará de execução). Ainda assim, a obra ficaria sob inteira responsabilidade do proprietário e profissionais envolvidos e estaria sujeita a adequações ou até demolição", diz nota da prefeitura.


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