Folha de S. Paulo


Plano Diretor paulistano exige lojas em prédios perto de corredores

A São Paulo das torres residenciais de costas para as ruas, cercadas de muros e andares e mais andares de garagem não irá mais existir -ao menos não no entorno de corredores de ônibus, trem e metrô, prevê o novo Plano Diretor proposto pela gestão Fernando Haddad (PT).

A prefeitura quer exigir que os prédios residenciais próximos de polos de transporte abram espaço para comércio no térreo e não sejam tão generosos na abertura de vagas para carros em garagens.

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Pelas proposta, que será enviada à Câmara no mês que vem, perdem espaço os paliteiros -prédios altos e estreitos em relação ao terreno.

Esse modelo de conjunto surgiu na última década em regiões como a avenida Jornalista Roberto Marinho (zona sul) ou o bairro da Vila Leopoldina (zona oeste). São prédios dotados de estrutura de dar inveja a muitos clubes.

No lugar, entra um padrão comum em São Paulo até os anos 1970 -proibido pela lei atual e que voltará a vigorar em uma área equivalente a 12% do espaço urbano.

A "nova cidade" será constituída de prédios colados uns aos outros, com calçadas largas (de cinco metros; mais do que o dobro de hoje), comércios no térreo e integrados à rua, tal qual a rua Fradique Coutinho (zona oeste) ou a av. São Luís (centro).

"Temos que imaginar que vivemos em uma cidade com milhões de pessoas. Não podemos ter um padrão único de urbanização", disse o arquiteto Fernando Mello Franco, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano.

O conceito que sustenta o plano é fazer as pessoas morarem mais perto de onde estão as modalidades de transporte público coletivo.

Um exemplo "perfeito" do modelo que se pretende alcançar, diz Mello Franco, é o Conjunto Nacional, na avenida Paulista: uma construção que une parte comercial à residencial, com jardim suspenso e aberto para a rua.

Editoria de Arte/Folhapress

PALITEIROS MAIS CAROS

Para levar adiante a ideia, o Plano Diretor incentivará a construção de prédios que aproveitem melhor o terreno, tenham mais unidades e menos vagas de garagem, apenas uma por apartamento.

A premissa é que, por morar ao lado de um corredor de transporte, o carro será um objeto dispensável.

Haverá um concurso de arquitetura para premiar projetos que se enquadrem nas características do perfil de prédio que a prefeitura quer.

Ao mesmo tempo, a prefeitura quer desestimular nesses lugares um campeão de vendas do mercado atual: os chamados "condomínios-clube", aquelas torres cercadas de grandes áreas de lazer, com menos apartamentos por andar e muitas vagas de estacionamento à disposição.

Ficará mais caro, por exemplo, erguer um prédio que ocupe uma pequena parte do terreno. Esse dispositivo, presente na lei atual, resultou em uma profusão de paliteiros.

No novo Plano Diretor, esse tipo de construção exigirá pagamento adicional para a liberação da prefeitura, o que hoje não ocorre.

GARAGEM

Outra mudança prevista no Plano Diretor da cidade é que, quanto mais vagas de garagens oferecer aos moradores, menos andares o prédio poderá ter.

"Não que isso não vá mais existir na cidade. A tendência é que essas construções fiquem em áreas distantes do transporte público", diz o secretário Mello Franco.

O mercado imobiliário criticou: diz que os imóveis devem ficar mais caros e que, se do ponto de vista urbanístico o plano parece ideal, na prática, pode ser inviável.


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