Folha de S. Paulo


Não somos prisioneiros do regime, dizem médicos cubanos ao chegar à Bahia

Os cubanos que desembarcaram na noite deste domingo (25) no aeroporto de Salvador para fazer parte do programa Mais Médicos, do governo federal, negaram ser explorados pelo regime da ilha caribenha.

"Não somos prisioneiros. Não é certo dizer isso", afirmou à Folha a médica Ivette Lopez.

Os profissionais de Cuba terão condições diferentes das dos demais estrangeiros no programa --a bolsa de R$ 10 mil por mês paga pelo Brasil não será repassada aos médicos, mas ao governo cubano, que fará a distribuição.

O Planalto diz não saber quanto eles vão ganhar. A gestão Dilma informa que, em parcerias entre Cuba e outros países, costuma haver um repasse de 25% a 40% do total --que, no Brasil, significaria de R$ 2.500 a R$ 4.000.

"Não há preocupação quanto a isso. Viemos apenas em solidariedade ao povo brasileiro, para ajudar", afirmou Ivette.

Seu discurso foi repetido pelos colegas Emilio Vidal e René Marreiro. Todos também disseram que não são obrigados a se submeter a nenhuma regra específica de convivência e não quiseram comentar particularidades como a proibição de trazer familiares, diferentemente do que ocorre com os outros médicos estrangeiros no Brasil.

A importação dos 4.000 cubanos é questionada pelo Ministério Público do Trabalho. A vinda deles foi anunciada após a primeira etapa de seleção do Mais Médicos ter atendido apenas 10,5% das vagas.

Chegaram a Salvador neste domingo 50 cubanos. Na Bahia, o grupo ficará inicialmente em um alojamento do Exército. A partir desta segunda-feira (26), ao longo de três semanas, terá seus conhecimentos em saúde pública brasileira e língua portuguesa avaliados.

A aprovação nesta etapa é condição para que recebam o registro profissional provisório e comecem a atender a população nos municípios.

HERMANOS

A recepção aos cubanos em Salvador reuniu simpatizantes ao regime da ilha, além de militantes de partidos como o PT e o PC do B e entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UJS (União da Juventude Socialista).

Eles chegaram a cantar trechos de "Guantanamera", sucesso da música cubana, e entoaram uma série de gritos de guerra.

"Cuba, sim. Ianques, não! Viva Fidel e a revolução!" era um deles. Houve até em portunhol: "Bem-vindos, cubanos, los médicos são hermanos!".


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