Folha de S. Paulo


Traficantes invadem e dominam unidades

As obras são do governo federal, mas quem manda nos condomínios do Minha Casa Minha Vida em Fortaleza e em Porto Seguro (BA) são os traficantes de drogas.

Na capital cearense, os moradores do entorno do conjunto habitacional da Bacia do Rio Cocó, invadido desde o final de 2012, relatam frequentes trocas de tiros e operações policiais no local.

Obras do Minha Casa têm onda de invasão de sem-teto
Ministério diz tomar providencias para reintegração

Carlos Cecconello/Folhapress
Conjunto Habitacional da Bacia do Rio Cocó construído para famílias cadastradas no projeto
Conjunto Habitacional da Bacia do Rio Cocó construído para famílias cadastradas no projeto "Minha Casa Minha Vida"

Hoje, com medo de se identificarem, os moradores do local dizem que, desde a invasão, passaram a ter receio de sair de suas casas.

A polícia confirma a sensação de insegurança na região.

"Já foram presas várias pessoas armadas e traficando drogas naquele local", afirmou o coronel Carlos Ribeiro, comandante de policiamento de Fortaleza.

Representantes da construtora responsável, que trabalhavam num escritório dentro do terreno do conjunto habitacional, foram "convidados" pelos invasores a retirar todos os equipamentos de lá ou não sobraria nada.

A obra já consumiu cerca de R$ 30 milhões e está 70% pronta. Parte terá que ser refeita porque os apartamentos foram modificados após a invasão, com risco de comprometimento das estruturas.

PORTO SEGURO

Em Porto Seguro, no sul da Bahia, uma unidade habitacional do programa do governo federal tem uma situação parecida com a de Fortaleza.

Um condomínio inacabado do Minha Casa Minha Vida está hoje sob o comando de uma facção criminosa, que espalha sua sigla em pichações nas paredes das casas.

O conjunto de 498 residências começou a ser feito em agosto de 2011 e foi paralisado em janeiro de 2012 -resultado de conflitos trabalhistas. Um mês depois, foi invadido, e as casas, saqueadas.

Dentro das unidades o que se vê em nada é parecido com o projeto original que detalha o que deveria ser entregues para os beneficiários da cidade inscritos no programa do governo federal.

Pias, janelas, portas e vasos sanitários foram levados pelos saqueadores.

O presidente da associação de moradores, José Arcanjo, diz que a população se acostumou com a facção criminosa que age no local. "Não mexemos com ela e ela não mexe com a gente".

Em Fortaleza, cerca de 90 mil famílias estão na fila para receber uma casa. Em Porto Seguro, são 10 mil. (AGUIRRE TALENTO E MÁRIO BITTENCOURT)


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