Folha de S. Paulo


Condenado, israelense tem autorização para viajar, mas não volta ao Rio

O pedido do israelense Mier Zloof comoveu juízes do Tribunal Regional Federal do Rio. Condenado a nove anos de prisão por formação de quadrilha armada, contrabando e lavagem de dinheiro, ele pediu para ir à Inglaterra assistir ao nascimento do neto.

Recorrendo em liberdade da pena, o israelense teve o voto de confiança de dois juízes federais do tribunal. Não correspondeu: deveria ter voltado ao país na quinta-feira e já é considerado foragido pelo Ministério Público Federal.

Zloof foi condenado por participação numa quadrilha que explorava máquinas caça-níqueis e fazia importação ilegal de carros de luxo. O esquema envolveu jogadores de futebol famosos, como Emerson Sheik, do Corinthians. Ele foi absolvido, mas a procuradoria recorreu da decisão.

Segundo a sentença, Zloof atuava no contrabando de peças eletrônicas para as máquinas caça-níqueis. Comprava placas na Inglaterra, destino da viagem solicitada. Era ainda um dos responsáveis, segundo a Justiça, pela operação financeira da quadrilha no exterior.

A atuação internacional foi um dos motivos para a procuradoria rejeitar seu pedido de viagem, a primeira após a condenação no fim do ano passado.

Mas dois juízes do tribunal discordaram da análise. Pesou a favor do israelense o fato dele já ter viajado por três vezes antes da condenação e voltado na data marcada.

Os magistrados também consideraram que, por ter pago R$ 1 milhão em fiança para se livrar da prisão preventiva, o condenado não fugiria --ele pode recuperar o valor se for absolvido e atender aos pedidos da Justiça até o fim do processo.

'SUBLIME'

Mas o argumento que mais comoveu os magistrados foi o nascimento do neto do israelense, motivo alegado para a viagem. O juiz Paulo Espírito Santo levou em consideração o "sublime sentimento" de ter um neto.

"Acho que só eu tenho esse sublime sentimento [na Turma], pois sou apaixonadíssimo pela minha quinta neta. Ela está até no meu telefone, e o tempo todo ligo para olhar a carinha dela, tem cinco meses. É um motivo, sim --é um sujeito mais idoso--, mais importante do que o anterior, quando ele viajou para passar o Natal lá", disse ele na sessão de julgamento.

O israelense tem 55 anos.

"Não desaponte o Poder Judiciário", disse Espírito Santo ao advogado do israelense.

O pedido de Zloof era passar quase um mês na Inglaterra, de 18 de julho a 15 de agosto. Mas a autorização para a viagem só foi dada no dia 24. Não há confirmação da data exata em que ele embarcou.

O condenado deveria ter comparecido ao tribunal até a última segunda-feira, o que não ocorreu até a conclusão dessa edição. A Procuradoria Regional da República já pediu a prisão preventiva de Zloof e a emissão de alerta pela Interpol para detenção do condenado em outros países do mundo.

Os advogados do israelense não retornaram às ligações da reportagem.


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