Folha de S. Paulo


'Ela só queria fazer o bem', diz pai de jovem morta em GO

De cabeça baixa, o agricultor Hércules Pazinatto, 39, caminha pelo corredor de sua casa, em um bairro de classe média alta. À distância, sua mulher, Adriana, 38, encostada na parede, também mira o chão e chora.

"É aqui", diz o agricultor.

Ele respira fundo e empurra a porta. Nove dias após a morte da filha mais velha, Bianca Mantelli Pazinatto, 18, é primeira vez que o casal retorna ao quarto dela.

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Estudante de biomedicina na UFG (Universidade Federal de Goiás), onde era tida como aluna exemplar, Bianca foi morta a facadas por duas amigas adolescentes, uma de 16 e outra de 17 anos.

As três jovens viviam em Jataí, cidade a 321 km de Goiânia, cerca de 100 mil habitantes, quinto melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Goiás e economia baseada na agricultura, principalmente de soja e milho, esse o ramo dos Pazinatto.

Os detalhes do crime, planejado pelas duas jovens com um roteiro detalhado, escrito pela garota de 17 anos em um caderno de desenhos, colocaram Jataí no centro da crônica policial do Brasil.

"Não tínhamos força para ver o quarto da Bianca. Aqui ela passava os dias, estudando horas. Eu até brigava com ela para que parasse de estudar um pouco", diz a mãe, que tem outra menina, de 11 anos, e um menino, de três.

"A Bianca só pensava em fazer o bem. Por isso, ela não percebeu a maldade dessas meninas que diziam ser amigas", diz o pai, ao mostrar a Bíblia em um pequeno altar no quarto da filha, impecavelmente arrumado, repleto de bichos de pelúcia.

O pai prossegue, ao olhar para uma enorme fotografia de Bianca sorrindo, acima de sua cama: "É essa a imagem a ser guardada da minha filha: o sorriso sincero".

Alan Marques/Folhapress
Nove dias após a morte de Bianca Mantelli Pazinatto, 18, a família da jovem entrou em seu quarto
Nove dias após a morte de Bianca Mantelli Pazinatto, 18, a família da jovem entrou em seu quarto

MALDADE

A suspeita de 17 anos, ao justificar o crime à Justiça, disse que amava Bianca, mas que não era correspondida.

No quarto de Bianca, a polícia encontrou uma carta na qual a suspeita declara seu interesse pela vítima.

A jovem assassinada namorava um rapaz de 19 anos, funcionário de uma revendedora de caminhões. Antes desse namoro, ficou dois anos com outro jovem.

"Não bastasse a morte da nossa filha, ainda lidamos com essa maldade. Se tinha algo nesse sentido de gostar, era da parte da moça que a matou", disse o pai à Folha.
Nessa primeira entrevista após o crime, o casal pediu para não ser fotografado.

"Não queremos exposição. Precisamos encontrar novamente forças para cuidar de nossos outros dois filhos", afirma o pai de Bianca.

Apesar de os pais de Bianca ainda não terem feito essa conta, é provável que, em 2016, quando a filha deveria se formar, as duas jovens suspeitas estejam livres, após três anos em uma instituição para adolescentes infratores.

Nas rodas de conversa em Jataí, há um consenso: três famílias de pessoas "batalhadoras" foram destruídas.

A mãe e o padrasto da jovem de 17 anos se mudaram de Jataí na mesma semana do crime. Saíram à noite, escondidos e sem deixar contato.

Ao ser localizado pela reportagem, o pai da jovem de 16 anos, um homem alto e forte, chorou como criança e pediu desculpas por não ter o que dizer sobre o ato da filha.

Alan Marques/Folhapress
Adolescentes M., sentada no banco da frente, e L (as duas são menores de idade) deixam o fórum da cidade de Jataí após prestarem depoimento sobre a morte da universitária Bianca Mantelli Pazinatto, 18.
Adolescentes M., sentada no banco da frente, e L deixam o fórum de Jataí após prestarem depoimento sobre o caso

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