Folha de S. Paulo


Delegado-geral de SP se diz surpreso com declarações de comandante da PM

O delegado-geral de São Paulo, Maurício Blazeck, disse que se surpreendeu com as declarações do coronel Wagner Dimas, chefe da cabo Andréia Pesseghini, uma das vítimas da chacina da Vila Brasilândia, que deixou cinco mortos na segunda-feira (5).

Dimas disse ontem em entrevista à Rádio Bandeirantes que a policial havia denunciado colegas de farda por envolvimento em roubos a caixas eletrônicos. Hoje, em depoimento à Corregedoria da PM, o comandante voltou atrás, afirmando que "se perdeu na entrevista".

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"Da mesma forma que a imprensa, a gente se surpreendeu. Porque isso [declarações de Dimas] não se encontrava dentro da dinâmica do crime", disse Blazeck. Sobre a ligação das eventuais denúncias da cabo com a chacina, o delegado-geral afirmou que "não aparece até o momento que isso tenha ocorrido".

A declaração de Dimas gerou uma crise dentro da Secretaria de Estado da Segurança Pública já que a investigação do DHPP (departamento de homicídios) aponta o adolescente como o único suspeito de ter cometido o crime.

O CRIME

A polícia acredita que Marcelo matou os parentes na noite de domingo (4) ou madrugada de segunda (5). Teria então dirigido até a escola, passado a madrugada no carro, frequentado as aulas de manhã, voltado de carona para casa e se matado.

A família foi achada em casa anteontem, todos com tiros na cabeça. Luis Marcelo Pesseghini, 40, era sargento da Rota. A mulher era cabo do 18º Batalhão. As outras vítimas moravam na casa nos fundos: a mãe dela, Benedita Bovo, 65, e a tia-avó Bernadete Silva, 55.

A versão de que Marcelo é o responsável pelo crime ganhou força após o melhor amigo dele afirmar à polícia que, em diversas ocasiões, ele havia lhe dito que planejava matar a família e fugir.

"Esse amigo nos disse: 'Ele sempre me chamou para fugir de casa para ser um matador de aluguel. Ele tinha o plano de matar os pais durante a noite, quando ninguém soubesse, e fugir com o carro dos pais e morar em um local abandonado'", afirmou o delegado Itagiba Franco.

Câmeras de um imóvel na rua do Stella Rodrigues, colégio particular na Freguesia do Ó, registraram o Classic cinza de Andreia sendo estacionado à 1h25. Às 6h23, sai dele um garoto, que vai até o colégio.

Nas mãos do jovem a polícia não encontrou pólvora. No carro da família, no entanto, foi achado um par de luvas que será periciado na tentativa de encontrar algum vestígio.

Segundo a polícia, o fato de não haver vestígios do armamento não é incomum, pois a pistola .40 utilizada no crime costuma não deixar vestígios. Canhoto, Marcelo tinha na mão esquerda a pistola utilizada pela mãe.

Marcelo tinha diabetes e fibrose cística, doença degenerativa sem cura que pode levar a infecções, problemas digestivos e morte na idade adulta -mas nenhuma alteração psiquiátrica. Ele já havia reclamado da doença a professores e colegas.

MATADORES DO 18

O 18º batalhão é famoso no noticiário policial por conta dos escândalos envolvendo policiais. Em janeiro de 2008, o coronel José Hermínio Rodrigues, então comandante do policiamento da zona norte de São Paulo, foi morto a tiros quando passeava de bicicleta pela avenida Engenheiro Caetano Álvares.

Segundo investigação, policiais mataram o coronel pois ele havia transferido um PM do 18º batalhão da Força Tática (espécie de tropa de elite de cada batalhão da PM) para o setor administrativo do 43º. No início deste ano, o Tribunal de Justiça Militar de São Paulo absolveu os policiais

Em 2011, o DHPP concluiu que a morte do comerciante Alexandre Pereira da Silva, 30, foi cometida por integrantes de um grupo de extermínio formado por policiais militares e conhecido na zona norte de São Paulo como "Matadores do 18".

Segundo a investigação, Silva foi morto porque se recusou a pagar propina para que os PMs fizessem segurança de suas máquinas caça-níqueis.


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