Folha de S. Paulo


'Tem lugar que é melhor não ter pedágio', diz especialista da Unicamp

Para o professor Carlos Alberto Guimarães, doutor da área de transportes da FEC (Faculdade de engenharia civil, arquitetura e urbanismo) da Unicamp, há lugares em que a melhor alternativa é não ter pedágio, a despeito de estudos técnicos que digam o contrário.

"A análise de um pedágio deveria ser política também, não só técnica. Não avaliaram o impacto político dos últimos pedágios que foram construídos na região", diz Guimarães, citando a destruição do pedágio de Cosmópolis, na SP-332.

Ele compara esse pedágio e outros, como os de Jaguariúna -no km 123,5 da rodovia Governador Adhemar Pereira de Barros (SP-340), que liga Campinas a Mococa-- e de Indaiatuba -no km 92 da rodovia Santos Dumont (SP-075), que liga Campinas ao aeroporto internacional de Viracopos e à cidade-- com a instalação de praças entre cidades como São Caetano, São Bernardo, Osasco ou Guarulhos e São Paulo.

"Na região metropolitana de São Paulo não tem pedágio que separa as cidades. Aqui em Campinas tem --e você não tem opção", diz o professor da Unicamp. "Aqui estão taxando as viagens metropolitanas. Aí é que está a diferença para São Paulo e outras regiões."

Leia abaixo trechos da entrevista.

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OUTORGA ONEROSA x MENOR TARIFA

Muitos pedágios na região metropolitana de Campinas são anteriores às concessões, alguns da década de 70.

Na década de 90 o governo estadual optou pelo modelo de outorga onerosa, em que as concessionárias eram obrigadas a pagar muito para o Estado e ao mesmo tempo fazer muitos investimentos nas estradas --o que encareceu o pedágio.

Mas o modelo pela menor tarifa [adotado pelo governo federal em concessões recentes como a da rodovia Régis Bittencourt, que liga São Paulo a Curitiba] tem problemas também. O pedágio é barato, mas o investimento é baixo também. Menor que o necessário.

Para mim, o modelo da Carvalho Pinto [que liga São Paulo a Taubaté, no interior do Estado] é o ideal. Tem um preço justo e mantém uma estrada de qualidade [a tarifa cobrada para percorrer os quase 120 km da rodovia é de cerca de R$ 9, valor bastante próximo ao da Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, no mesmo trecho].

PEDÁGIO METROPOLITANO

O pedágio de Cosmópolis [no km 135 da rodovia Professor Zeferino Vaz, que liga Campinas a Mogi Guaçu] é um pedágio metropolitano, que divide duas cidades de uma mesma região metropolitana [Cosmópolis e Paulínia].

É o mesmo problema que ocorre em Indaiatuba [no pedágio do km 92 da rodovia Santos Dumont] e Jaguariúna [no km 123,5 da Governador Adhemar Pereira de Barros].

Esses pedágios impactam muito as viagens cotidianas de pessoas que moram em uma cidade e trabalham em outra. Tem um movimento metropolitano muito grande nessas rodovias. Daí o histórico de conflitos e reclamações.

Com o Ponto a Ponto essa questão pode melhorar. Mas pode piorar também. E se o governo decidir pedagiar a Dom Pedro I [que liga Campinas a Jacareí, no Vale do Paraíba] no trecho urbano? Vai passar a cobrar de toda uma população que usa a rodovia como anel viário de Campinas?

PEDÁGIO URBANO

O Ponto a Ponto é o modelo mais justo. Você paga o que efetivamente usa.

Mas também tem de pesar a questão política. No caso da Dom Pedro I, por exemplo, dá para cobrar a tarifa na via expressa e liberar na marginal. Aí você dá alternativa para a pessoa que não quiser pagar [o pedágio].

A implantação de pedágios em trechos urbanos é complicada. O movimento em um anel viário é muito grande, e o custo político é muito alto.

De um lado é justo cobrar, porque a pessoa usa a via, mas do outro tem de tomar cuidado porque tem lugar que é melhor não ter pedágio.

NÓ LOGÍSTICO

Campinas é um nó de uma malha de várias rodovias importantes. É um "hub", um ponto central de logística rodoviária estadual.

Anhanguera, Bandeirantes e D. Pedro I são grandes rodovias de São Paulo e formam um centro logístico importante.

Toda a ligação do Estado, tirando a alta Sorocabana, região de Presidente Prudente, passa pela região metropolitana de Campinas.

É por isso que Campinas tem uma região metropolitana com pedágios metropolitanos.

Campinas é um eixo rodoviário importante que liga a capital, o Vale do Paraíba, o Litoral Norte e o sul do país ao norte do Estado e à outras regiões como o Triângulo Mineiro e a região Centro-Oeste.


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