Folha de S. Paulo


Moradores denunciaram abusos de PMs dois meses antes de Amarildo sumir

Ao menos três moradores da Rocinha, favela situada em São Conrado, zona sul carioca, denunciaram ao Estado abusos cometidos por policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) local - dois meses antes do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, desaparecer, no dia 14 de julho.

Em resposta ao advogado da família de Souza, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Rio admitiu que recebeu as denúncias, mas não conseguiu se organizar para marcar uma conversa com o comandante da polícia pacificadora na região, major Edson Santos.

Policiais civis buscam corpo de Amarildo em matagal na Rocinha

"Em um segundo momento [após as denúncias], membros da Comissão de Segurança Pública e Privação de Liberdade que compõem o conselho foram até a favela para conversar com outros moradores. Lá, nos foi relatado outros casos de abusos, alguns brandos e outros relativamente graves. Foi decidido pela comissão que teríamos uma conversa com o comandante local da Rocinha, mas até o momento não conseguimos nos organizar para marcar essa agenda com o major Edson", afirmou a coordenadora da Comissão de Segurança Pública, Thais Duarte, em e-mail encaminhado ao advogado da família de Amarildo Souza, ao qual a Folha teve acesso.

A reportagem procurou o Conselho Estadual dos Direitos Humanos para saber quais foram as denúncias feitas pelos moradores contra os policiais, mas não obteve retorno. Entre as pessoas que denunciaram os abusos está um líder comunitário da Rocinha.

"De fato eles erraram ali, deixaram pra lá, acharam que não ia dar em nada. Agora, quero ter acesso às denúncias para saber alguma delas se referia ao Amarildo. Mas que o Estado foi omisso... foi", disse o advogado da família de Souza, João Tancredo.

O desaparecimento de Amarildo gerou uma série de protestos no Rio e em outras capitais, como São Paulo, no mês passado.

Segundo a polícia, uma das 80 câmeras instaladas na favela mostram o pedreiro entrando no carro da PM, próximo à rua 2, no interior da comunidade e seguindo para a sede da UPP.

Na noite do dia 14, um domingo, quando Amarildo desapareceu apenas duas câmeras não funcionavam na favela da Rocinha, de acordo com policiais civis. Justamente, as duas instaladas diante da sede da UPP.

A cúpula de segurança do Rio informou no final do mês passado que trabalha com a hipótese de que o pedreiro esteja morto. A polícia começou a fazer buscas pelo corpo do pedreiro em um matagal na Rocinha.

Daniel Marenco/Folhapress
Elizabeth Gomes da Siva, esposa do pedreiro Amarildo Souza, morador da Rocinha, desaparecido desde 14 de julho
Elizabeth Gomes da Siva, esposa do pedreiro Amarildo Souza, morador da Rocinha, desaparecido desde 14 de julho

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