Folha de S. Paulo


Ministro pretende reabrir negociação para contratar médicos cubanos

Frente à baixa adesão de profissionais brasileiros no programa Mais Médicos, o governo recuperou o discurso de que será preciso buscar médicos no exterior, o que deverá incluir os polêmicos profissionais de Cuba.

"Vamos buscar Espanha, Portugal e Argentina, países que têm o maior número de inscrições [na primeira rodada do Mais Médicos], e Cuba que já ofertou [6.000 médicos] para o Ministério das Relações Exteriores. Vamos fazer as discussões agora, vamos começar a conversa", afirmou o ministro Alexandre Padilha, nesta quarta-feira (7).

Essa é a fala mais enfática do ministro no sentido de trazer médicos de Cuba. Até o momento em que o governo brasileiro congelou as negociações com os cubanos, como revelado pela Folha, Padilha se limitava a dizer que o programa não faria discriminações com nenhum país, inclusive Cuba.

No entanto, ao lançar a medida provisória do Mais Médicos, em julho, o governo decidiu limitar as inscrições, nessa primeira rodada, a cadastros individuais --o que prejudicaria inscrições de médicos cubanos.

O resultado da primeira chamada do programa, porém, mostrou que os médicos que já atuam no Brasil preencheram apenas 6% das 15.460 vagas para médicos demandadas pelas cidades e que somente 11,5% dos municípios foram atendidos.

As inscrições individuais de médicos no exterior, na primeira rodada, também não vão suprir a demanda. Foram inscritos 1.920 médicos que atuam no exterior. Até a semana passada, apenas 766 haviam finalizado o cadastro.

Assim, ganha força a possibilidade de firmar acordos bilaterais para facilitar a vinda desses médicos.

Para o CFM (Conselho Federal de Medicina), a fala do ministro sobre acordos com Cuba e outros países não traz surpresas. O conselho diz que, desde o começo, entendeu que o objetivo do programa era trazer médicos estrangeiros para participarem do programa em detrimento dos médicos nacionais.

MILITARES

O ministro da Saúde admitiu que outras medidas serão necessárias para suprir o déficit de médicos no país, por exemplo a aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que autoriza médicos militares a fazerem atendimentos à população fora do seu expediente militar. A proposta pode ser aprovada, nesta quarta, pelo Senado.

Segundo Padilha, a medida liberaria cerca de 6.000 médicos para darem plantões à noite e aos finais de semana ou, nos casos de médicos que trabalham 20 horas semanais nas estruturas militares, trabalharem meio período na rede pública.

"O número de 938 médicos com registro profissional no Brasil e mais de 1.920 estrangeiros que já se inscreveram no Mais Médicos superou a expectativa do Ministério da Saúde para o primeiro mês.

Mas a demanda também aumentou, o que significa que vamos ter que reforçar não só a convocação de brasileiros e estrangeiros, como também intensificar outras estratégias que possam significar um maior número de médicos no Brasil. Como a cooperação com os militares e os acordos bilaterais [para a vinda de estrangeiros]."


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