Folha de S. Paulo


Alckmin critica ter que ir à Justiça para obter dados sobre cartel

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou na manhã desta segunda-feira (5) o fato de o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não fornecer ao Estado os documentos da investigação sobre a suposta formação de cartel em licitações de trens em São Paulo. O governo entrará na Justiça para obter as informações.

"É um sigilo estranho porque as informações todas estão na imprensa", criticou o governador. O Cade, órgão federal de combate às práticas empresariais prejudiciais à livre concorrência, sustenta que só pode fornecer os papéis após decisão da Justiça.

A apuração do Cade teve início a partir de relatos da multinacional alemã Siemens sobre a atuação do cartel, da qual participou, em licitações entre 1998 e 2008 no Estado.

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Como revelado pela Folha na semana passada, a empresa entregou às autoridades brasileiras papéis que indicam que o governo paulista teve conhecimento e avalizou a formação do cartel em licitação da linha 5 do metrô de São Paulo em 2000.

Questionado se há motivação política para os dados não serem divulgados, Alckmin disse que não sabe qual a motivação. "Nós queremos também investigar e esclarecer", disse o tucano.

Ele afirmou ainda que tem "confiança de que a Justiça vai permitir esse acesso, para que a gente tenha o conjunto da investigação e possa atuar no sentido de punir as empresas, caso se confirme o cartel".

O governador afirmou ainda que não tem informações de que a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos sabia sobre o cartel. Segundo ele, se for comprovada a participação de agentes públicos, eles serão punidos.

Ele disse também que "se for confirmado algum cartel, o Estado é vítima e entrará imediatamente com ação de indenização".

Editoria de arte/Folhapress

As declarações do governador foram dadas hoje durante a inauguração da nova sede do Centro Paula Souza, em São Paulo. No evento, também estavam presentes os ex-governadores José Serra e Aberto Goldman.

Para Goldman, "a forma pela qual o Cade levou essa questão" mostra "um intuito político evidente".

"O fato pode ter existido, não estou negando, não sei, não tenho conhecimento ainda, mas a forma pela qual foi feita a divulgação ou foi vazada a divulgação tem um intuito político evidente. Do governo federal contra o governo de São Paulo, do PT contra o governo nosso. Há alguma dúvida? Para mim, nenhuma dúvida quanto a isso", afirmou Goldman.

Serra não falou com a imprensa.

Sem citar o caso, o deputado estadual João Caramez (PSDB) defendeu os últimos três governadores de São Paulo. Em discurso, ele disse que todos são "homens honestos, sérios e capacitados" e que sua fala demonstrava "solidariedade" de todos os "homens de bem que compõem a Assembleia Legislativa". Os deputados do PT tentam abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso.


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