Folha de S. Paulo


Ministério Público investiga se ator morreu após inalar gás em protesto no Rio

A Coordenadoria de Direitos Humanos do Ministério Publico do Rio investiga a partir desta segunda-feira (5) se o ator Fernando da Silva Candido, 34, morreu na última quarta (31) em decorrência de problemas respiratórios, no Hospital Israelita Albert Sabin, na Tijuca, zona norte da capital. Ele havia sido atingido por spray de pimenta e gás lacrimogêneo durante uma manifestação no dia 20 de junho.

O órgão instaurou procedimento preliminar para apurar as causas da morte do artista. O prontuário médico dele será requisitado nesta segunda-feira ao Hospital Israelita Albert Sabin.

"Consta do procedimento preliminar as matérias jornalísticas veiculadas na mídia e o depoimento do artista extraído do You Tube. O procurador Márcio Mothé se reúne hoje com os promotores Márcio Nobre e Paulo Roberto Melo Cunha para discutir as providências a serem tomadas", disse o Ministério Público, em nota.

Reprodução/TV Globo
O ator Fernando Cândido morreu após protesto
O ator Fernando Candido morreu após protesto

Silva foi um dos fundadores do Cinema de Guerrilha da Baixada fluminense, que une cineastas e atores de São João de Meriti para produzir filmes com poucos recursos e oferecer oficinas a jovens da periferia.

Segundo colegas, ele sofria de problemas respiratórios depois que se recuperou de uma tuberculose há cerca de seis anos. O caso dele, no entanto, teria se agravado após ser atingido por spray de pimenta e gás lacrimogêneo, lançados por PMs, em um ato na frente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

"Ele morreu por problemas respiratórios e infecção no pulmão. Mas ele dizia no hospital que o gás lacrimogêneo e o spray de pimenta pioraram o quadro dele", disse Ricardo Rodrigues, sócio de Fernando no projeto na Baixada.

Silva tinha nanismo e protestava pelos direitos dos anões na ocasião. Ficou conhecido no meio cinematográfico depois que gravou o curta cômico "Enterro de Anão" e se integrou a uma banda com o mesmo nome do filme.

Silva era membro da Anaerj (Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro) e sempre participava de encontros que reivindicavam os direitos dos anões.

"A morte dele não será esquecida. Vamos organizar um protesto no próximo dia 11 (domingo) na praia de Copacabana (zona sul) pedindo Justiça. Também vamos entrar com um processo contra o Estado pedindo indenização para a família do Fernando", afirmou Kênia Rio, presidente da Anaerj, à Folha.

A reportagem tentou contato com a família de Fernando Silva, mas ninguém foi localizado.


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