Folha de S. Paulo


PM vai depor em caso Amarildo após dizer que tio teria transportado corpo para lixão

A DH (Divisão de Homicídios) do Rio de Janeiro convocou o policial militar Juliano da Silva Guimarães, que atua na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, zona sul, para depor no caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, visto pela última vez em 14 de julho.

O depoimento deve ser colhido na tarde da próxima segunda-feira (5).

De acordo com o jornal 'O Globo', o PM teria dito que um tio dele, que trabalha como motorista da Comlurb, levou, em 28 de julho, um corpo para o lixão do Caju, zona norte. A publicação relata que o funcionário foi obrigado por traficantes a fazer o transporte. Esta teria sido a primeira vez que o motorista trabalhava na região.

O delegado titular da DH, Rivaldo Barbosa, disse que não poderia comentar o caso antes do depoimento.

SUMIÇO

No dia 14 de julho, às 19h20, quatro recrutas da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha pegaram Amarildo diante de casa e o levaram para a sede da unidade, no alto da favela. Ele havia acabado de chegar de uma pescaria.

Os PMs pensavam que o pedreiro era o traficante Guinho, com mandado de prisão expedido pela Justiça. Desde então, não foi mais visto.

"É duro dizer, mas eu acho que meu irmão está morto. Ele sempre dizia que revidaria se fosse agredido por um policial. Dizia que trabalhador não pode levar tapa na cara e ficar quieto", disse Maria Eunice Dias, 52, uma das irmãs do pedreiro.

Moradores, que pediram anonimato, disseram que contra ele também pesou o fato de traficantes do Comando Vermelho estarem o tempo todo diante de sua casa. No beco próximo há uma boca de fumo. Alguns chamam o local de "inferno" por causa dos criminosos.

Lá não há câmeras. Traficantes não são incomodados pelos policiais. Desde que o pedreiro desapareceu, os policiais foram proibidos de entrar nos becos. A polícia investiga a hipótese de ele ter sido levado para a sede da UPP para dar alguma informação sobre os traficantes.

"Ele não demorou cinco minutos aqui. Olhei para ele, para a foto e vi que não era o tal do Guinho e liberei. Vi que ele desceu as escadas, mas não acompanhei para onde foi", afirma o major Edson Santos, comandante da UPP.

REPERCUSSÃO

A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) criticou a atuação da polícia no caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro, que virou símbolo de manifestações no Rio de Janeiro e também em São Paulo.

"Nos preocupa sobremaneira a abordagem policial e o posterior desaparecimento. Toda a investigação e o inquérito sobre o desaparecimento devem ser feito com hipótese clara e concreta de que seja uma responsabilidade dos agentes públicos, do abuso de autoridade, da violência policial, algo com o qual nós não podemos conviver", disse Rosário. "A primeira suspeição que todos nós devemos ter é de responsabilidade pública também nesses desaparecimentos."


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