Folha de S. Paulo


Promotoria diz que policiais do Denarc omitiram droga apreendida em ação

Os policiais do Denarc (departamento de narcóticos) investigados por supostamente extorquir traficantes de Campinas (a 93 km de São Paulo) não apresentaram toda a droga apreendida em uma das ações que fizeram na região, segundo os promotores do Gaeco (grupo que combate crime organizado) que investigam o caso.

De acordo com o promotor Amauri Silveira Filho, um dos supostos traficantes que depôs nesta quinta-feira (1º) disse que 64 kg de pasta base de cocaína foram apreendidos em 12 de abril.
Carlos Alberto da Silva --conhecido como Frango, segundo a Promotoria -- confirmou a informação, que já havia sido interceptada pelos promotores em escuta telefônica durante as investigações, mas nenhuma testemunha havia confirmado o desaparecimento da droga nos interrogatórios.

No boletim de ocorrência --feito na sede do Denarc, em São Paulo, e assinado pelo delegado da 3ª Deap (Delegacia de Apoio), Fábio do Amaral Alcântara, que está preso temporariamente devido às investigações-- constam apenas 7 kg de cocaína já processada.

A prisão em flagrante de quatro traficantes que estariam com a droga foi feita pelos policiais Silvio Cesar de Carvalho Videira, Daniel Dreyer Bazzan e Jandre Gomes Lopes de Souza, todos investigados pelo Gaeco e também presos temporariamente. Os dois primeiros e Leonel Rodrigues Santos, que estavam foragidos, se entregaram na terça-feira (30) à Corregedoria da Polícia Civil em São Paulo.

"Comprovamos uma divergência gritante entre a quantidade de droga que foi apreendida e a que foi efetivamente apresentada pelos policiais", disse o promotor de Justiça, agora à noite, após os interrogatórios. "Essa situação é tão grave quanto ou até mais grave do que já havíamos apurado."

Até então, as únicas provas em relação ao sumiço da droga eram duas interceptações telefônicas feitas nos dias 12 e 13 de abril, em que uma mulher identificada como Suellen diz que os policiais do Denarc haviam encontrado cerca de 60 kg de drogas que estariam guardadas pela quadrilha.

Segundo a investigação do Gaeco, que corre em segredo de Justiça, "uma leitura dos flagrantes lavrados no Denarc demonstra que apenas uma pequena parte dessa droga foi apreendida, concluindo-se que os policiais se apoderaram de substâncias entorpecentes".

INVESTIGAÇÃO

O crime ocorreu na mesma ação em que Agnaldo Aparecido da Silva Simão --conhecido como Codorna e supostamente responsável pelo tráfico na região do bairro São Fernando, em Campinas-- foi sequestrado por policiais do Denarc. Ele foi solto após o pagamento de R$ 200 mil, segundo o Ministério Público.

A operação da Promotoria foi desencadeada em 15 de julho, com a expedição de 13 mandados de prisão contra policiais civis --dos quais nove continuam presos temporariamente. Resulta de investigação iniciada em outubro de 2012 contra Wanderson Nilton Paula Lima, conhecido como Andinho, traficante da região de Campinas preso desde 2002.

Segundo as investigações, Andinho ainda comanda o tráfico na região. Escutas telefônicas realizadas durante as apurações levaram à identificação dos policiais, segundo o Ministério Público. Eles são suspeitos dos crimes de formação de quadrilha, extorsão, extorsão mediante sequestro e corrupção.

O promotor Silveira Filho disse que os próximos passos da investigação serão o interrogatório dos três policiais do Denarc que estavam foragidos e se entregaram na terça --o que deve ocorrer na próxima semana-- e uma nova rodada de reconhecimento pelas vítimas dos policiais detidos.


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