Folha de S. Paulo


Protestos de médicos atingem dez Estados e o Distrito Federal

Médicos de ao menos dez Estados e do Distrito Federal paralisaram parcialmente o atendimento na rede pública e privada de saúde nesta terça-feira (30) para protestar contra a Medida Provisória que estabelece o programa "Mais Médicos" e contra os vetos da presidente Dilma Rousseff a partes da lei do Ato Médico.

Convocada pela Fenam (Federação Nacional dos Médicos), a mobilização teve a adesão de profissionais do PR, RN, RS, PE, CE, GO, MA, AM, ES, DF e RO. Passeatas ocorreram em diversas capitais, onde foram canceladas consultas e cirurgias eletivas, mas mantidos os atendimentos de urgência e emergência.

O presidente da entidade, Geraldo Ferreira, estima adesão de 60% da categoria entre os serviços ambulatoriais. Ele disse que a paralisação é "pontual" e que a categoria quer "evitar o máximo de transtornos".

Segundo Ferreira, a medida provisória que institui o programa Mais Médicos tem falhas. O programa, em fase de aprovação pelo Congresso, prevê importar profissionais da saúde de outros países e ampliar em dois anos os cursos de medicina.

"Nós queremos mais médicos sim. Mas com concurso público pago pelo governo federal e compromisso do governo em investimentos em infraestrutura", afirma.

Alguns Estados, como São Paulo, irão aderir à greve apenas na quarta-feira (31), segundo a Fenam (Federação Nacional dos Médicos).

No Paraná, os principais hospitais de Curitiba e do interior apenas atendem casos de urgência e emergência.

Pelo menos 15 cidades do Estado, como Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu, têm atos programados para hoje e amanhã, com protestos e paralisações do serviço.

Em Curitiba, 90% das consultas eletivas do Hospital de Clínicas foram canceladas. Apenas cinco dos 27 ambulatórios funcionam, e de modo parcial.

Os outros dois principais pronto-socorros da cidade, Hospital Evangélico e Hospital Cajuru, também cancelaram consultas e cirurgias eletivas (não emergenciais). Na rede municipal, segundo a prefeitura, 30% dos médicos não estão trabalhando.

Além disso, cerca de mil médicos estão reunidos em protesto na manhã de hoje, na praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba.

"O médico está sendo responsabilizado pelos desmandos do governo federal na saúde", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Alexandre Bley. "Nós não queremos ser algozes. A impressão que dá é que o médico é mercenário, não quer trabalhar. Mas não há estrutura adequada."

Em Pernambuco, os médicos paralisaram as atividades por 48 horas. O movimento que começou nesta terça-feira (30) só terminará na noite de quarta-feira (31), quando deve ocorrer uma assembleia da categoria.

O Simepe (Sindicato dos Médicos de Pernambuco) disse que houve paralisação de profissionais dos setores público e privado, mas não soube informar o percentual de adesão.

Os atendimentos das emergências, urgências, quimioterapia, radioterapia, hemoterapia e hemodiálise estão mantidos, segundo o sindicato.

Nesta terça-feira, os representantes dos médicos fazem blitz em ao menos sete unidades de saúde do Estado para identificar pacientes que aguardam transferência.

A intenção, segundo o presidente do sindicato, Mário Jorge Lôbo, é mostrar o deficit de estrutura.

Segundo Lôbo, no Hospital da Restauração, maior emergência do Estado, havia 30 pacientes aguardando leito nesta manhã. Desses, 17 esperavam por uma vaga de UTI. Os dados serão encaminhados ao Ministério Público de Pernambuco.

Em Porto Alegre, a paralisação dos profissionais afeta o atendimento no Complexo da Santa Casa, um dos principais do Estado. Cerca de metade das consultas particulares e por convênio de três unidades foram reagendadas.

Há previsão de que quatro equipes de cirurgia parem os trabalhos nesta terça-feira e outras duas na quarta. As áreas de urgência e emergência mantiveram as atividades.

Outro grande hospital da capital gaúcha, o Clínicas, também está com atividades comprometidas. O hospital, por meio de sua assessoria, informou que houve consultas e procedimentos eletivos não realizados hoje, mas ainda não há um balanço.

O programa "Mais Médicos", que aguarda aprovação pelo Congresso, pretende importar profissionais da saúde de outros países e ampliar em dois anos os cursos de medicina.

Já a lei do Ato Médico estabelece quais são os procedimentos privativos dos profissionais da medicina.

Os vetos da presidente Dilma diminuem a quantidade de atos que devem ser realizados exclusivamente pela categoria.

Em Fortaleza, os médicos paralisaram hoje os atendimentos eletivos, como consultas e cirurgias, mas mantiveram atendimento de emergência. A assessoria do Hospital Geral de Fortaleza confirmou que foram remarcadas consultas por causa do protesto. Pela manhã, os médicos fizeram um abraço simbólico ao redor do hospital.

O Simec (Sindicato dos Médicos de Fortaleza) estima que cerca de 800 pessoas participaram do protesto, entre médicos e estudantes. O sindicato também prevê paralisação no atendimento durante a quarta-feira (31).


Endereço da página:

Links no texto: