Folha de S. Paulo


Julgamento do Carandiru recomeça com testemunha "protegida"

Começou na manhã desta terça-feira (30) o segundo dia da segunda fase do julgamento do episódio conhecido como massacre do Carandiru. O júri decidirá o futuro dos policiais acusados pelo maior número de mortes no massacre de 1992: 73 dos 111 detentos.

Hoje, serão ouvidas testemunhas de defesa. Duas delas estão "protegidas" --seus nomes não foram divulgados e os depoimentos ocorrem a portas fechadas. Os jornalistas não puderam acompanhar os depoimentos e permanecem do lado de fora do Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

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Também serão ouvidos testemunhos do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho e o ex-secretário da Segurança Pública, Pedro Campos. Eles também depuseram na primeira fase do julgamento, que ocorreu em abril.

Ontem, o ex-detento Marco Antônio de Moura afirmou que os presos não atacaram ou revidaram a ação dos policiais durante a invasão da penitenciária que ocorreu após uma rebelião na unidade.

"Em nenhum momento os presos tentaram ir para cima dos policiais, porque os PMs tinham muitas armas de fogo", afirmou. O depoimento dele foi dado na primeira parte do julgamento, em abril deste ano, e apresentado em vídeo aos jurados dessa segunda etapa.

Editoria de arte/Folhapress

PERITO

Antes da apresentação dos vídeos, foi ouvido o perito criminal Osvaldo Negrini Neto, que voltou a afirmar que não havia indícios de confronto entre presos e policiais militares no interior do Pavilhão 9.

"Não há nenhuma prova técnica que possa amparar uma visão [de que os presos haviam atirado de dentro das celas para os policiais]. Se fosse assim, as paredes [dos corredores] estariam repletas de tiros e haveria cadáveres de policiais mortos", afirmou.

Ele afirmou ainda que no dia da entrada da PM no Carandiru viu um "mar de sangue". "Voltei com o sapato encharcado de sangue, com a meia molhada. Toda a roupa que usei no dia foi para o lixo", afirmou.

"Depois da briga, olhei da janela da minha cela, vi a PM entrando e pensei: vou apanhar demais", afirmou Moura no depoimento. "Morreram uns oito na minha cela. Fingi estar morto para conseguir escapar com vida", completou ele.

Antes da apresentação do vídeo de Moura, foi transmitida a gravação de Antônio Carlos Dias, também sobrevivente do massacre. "Fomos brutalmente espancados. Havia corpos amontoados. Eles nos espetavam com facas e os que caíam eram baleados", afirmou ele.

Depois de Moura, começou exibido o depoimento de Moacir dos Santos, diretor de disciplina da penitenciária. "Quando os PMs entraram, eles começaram a gritar, como se estivessem comemorando um gol (...) Não vi nenhum policial sair machucado. Não havia marcas de tiros nas galerias", disse ele.


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