Folha de S. Paulo


Maria Leonilda Fanganiello (1919-2013) - Uma professora sozinha no interior

Maria Leonilda Fanganiello e os irmãos dariam um time de futebol: eram ao todo 11.

Nilda, como era chamada, foi a caçula do time. Nasceu em Guarulhos, na Grande São Paulo, filha de imigrantes italianos que fabricavam tijolos.

Tornou-se professora primária e se casou com Álvaro, um comerciante. Como, no início, atuava como professora substituta, só tinha a chance de dar aula quando a professora efetiva da escola faltava.

Cansada da situação e precisando a pagar a casa que comprara, decidiu ir atrás de uma classe só sua no interior de São Paulo. Seu casamento já tinha uns oito anos quando, no início da década de 50, partiu sozinha para a região de Presidente Prudente, a 558 km de distância da capital.

Trabalhou em cidades como Indiana, que hoje tem 4.825 habitantes. O filho, Domingos, jornalista aposentado, afirma que a mãe "deve ter sido qualificada de nomes não muito agradáveis" por ter se mudado para o interior sem o marido numa época em que não era comum mulheres trabalharem.

Embora fosse conservadora, Nilda nem ligada para o que diziam, como conta o filho.

Voltou a São Paulo e seguiu carreira como professora primária. Pagou a casa e, com o tempo, separou-se do marido.

Era uma mulher de gênio forte (tinha um "estilo general") e muito falante, como lembra o filho. Fazia pintura em tecido, tocava piano e gostava de preparar seus bolos.

Chegou a conhecer com Domingos a região de Campobasso, terra dos pais na Itália.

Fraturara o fêmur, o que prejudicara a locomoção. Última viva dos 11 irmãos, morreu na quarta (17), aos 94, na casa que adquirira 60 anos atrás.

coluna.obituario@uol.com.br


Endereço da página: