Folha de S. Paulo


Ato no Rio lembra 20 anos da chacina da Candelária

Cerca de 300 pessoas se reuniram nesta sexta-feira (19) em um ato no centro do Rio de Janeiro para relembrar os 20 anos da Chacina da Candelária. Inúmeros cartazes com a foto dos oito adolescentes mortos e com pedidos de justiça foram espalhados no altar da Igreja.

Após a missa que reuniu entidades de direitos humanos, movimentos sociais e voluntários da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), os manifestantes realizaram uma caminhada até a Cinelândia pedindo pelo fim da violência.

"Não basta termos leis, é preciso ter políticas públicas que garantam o direito das crianças e adolescentes, seres vulneráveis. São 20 anos da chacina da Candelária e 23 anos do Estatuto do Adolescente (ECA). Existe ainda um outro grupo da sociedade que faz um esforço grande contra isso e quer a redução da maioridade penal", disse Patrícia Tolmasquim, representante de uma entidade judaica de direitos humanos que integra o movimento "Candelária Nunca Mais".

Fernando Frazão/ABr
Familiares e grupos de defesa dos direitos humanos se reunem em vigília pelos 20 anos da Chacina da Candelária, no Rio
Familiares e grupos de defesa dos direitos humanos se reunem em vigília pelos 20 anos da Chacina da Candelária, no Rio

Na noite de quinta-feira (18), uma vigília em frente à Candelária reuniu cerca de 20 mães e dezenas de familiares de vítimas de outras chacinas ocorridas como a de Acari (1990), Vigário Geral (1993), Borel (2003), do Caju (2004), Jacarezinho (2007), Providência (2008) e da Maré (2013).

"Há quatro anos fazemos a vigília das mães que tiveram seus filhos chacinados e, há 20, este ato na Candelária assim como a caminhada pela defesa da vida. É sempre uma luta", contou Tolmasquim.

A três dias da chegada do papa Francisco ao Brasil, o ato deste ano, que foi considerado como uma "vigília pelos direitos humanos" recebeu o ícone de Nossa Senhora e a cruz peregrina, símbolos da Jornada.

"O ato da chacina não estava na agenda da Jornada, mas conseguimos incluir os símbolos durante a vigília das mães", contou Tolmasquim ao defender que o episódio da Candelária que matou oito crianças e adolescentes no centro do Rio não caia no esquecimento.

"Temos sede de justiça, temos que continuar chorando a cada criança inocente que morre", declarou o padre Luiz Antônio, pároco de Vigário Geral.
Segundo o padre Renato da Casa do Menor, os meninos mortos são "os nossos mártires".

"A vida pede passagem. Os jovens se tornam violentos quando são violentados pela sociedade. O Papa fala na globalização da insensibilidade", comentou Padre Renato durante a missa na Candelária.

Tatiana Assunção, 38, é voluntária da JMJ e saiu de Paciência, na zona oeste do Rio para ir à missa. "Todo ano eu venho à missa e todo ano é essa mesma triste lembrança. É um modo de dizer não à violência e pedir justiça", comentou Tatiana.

No dia 23 de julho de 1993, mais de 70 crianças e adolescentes dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária. Em uma ação de extermínio da polícia, oito crianças morreram fuziladas e outras dezenas ficaram feridas.


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