Folha de S. Paulo


Pela 6ª semana seguida, avenida Paulista termina o dia com protesto

"Não vai ter protesto? Jura?" Era o que se ouvia nos elevadores, no cafezinho entre os engravatados e na bilheteria da exposição de Lucian Freud, no Masp. Teve!

Moradores da avenida Paulista contratam até seguranças antiprotestos

Pela sexta semana consecutiva, sexta-feira foi dia de manifestações na Paulista --desta vez, só de 50 pessoas, pró e contra propostas de emenda constitucional.

O "enfim, férias!", aposta de alguns paulistanos que moram e trabalham numa das vias mais importantes do país, foi adiado (de novo) para a semana que vem.

"Precisamos de um respiro", diz Beatriz Corrêa, 19, que estuda na Paulista e mora nos Jardins. Ontem, ela aproveitou o dia sem "helicópteros, correria e gritaria" para apreciar uma exposição.

O número de passeatas e atos públicos não autorizados na avenida aumentou 45% no primeiro semestre, em relação a igual período de 2012, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Foram 55 contra 38 no ano passado. Até ontem, só julho já contabilizava 13.

"A gente não aguenta mais", diz Marisa Rubio, 42, empresária. "Cansamos."

Os entrevistados alegam que não são contra os protestos, mas dizem que a Paulista está sobrecarregada demais.

Na tentativa de desafogar a avenida, a Associação Paulista Viva quer que a cidade discuta novos polos para abrigar manifestações. "Nesse ritmo, esses atos podem provocar uma deterioração da Paulista em um curto prazo", afirma Antonio Carlos Franchini, presidente da entidade.

A proposta ganhou força após recentes manifestações que afetam não só o trânsito de pessoas e carros como também o comércio da via.

Em 15 dias, a associação deve entregar um ofício à Câmara. Nele, chama a atenção do poder público para a "mobilidade urbana" na avenida.

Franchini, 60, teme que o uso "exagerado da via altere o clima de convivência diversificada construído nos últimos 15 anos e comprometa o direito de ir e vir de quem vive e trabalha por lá".

O empresário lembra que a Paulista sofreu um declínio nos anos 1980, quando empresas migraram para outras vias de São Paulo. "Ninguém quer que essa cena se repita."

A Associação Paulista Viva possui cerca de 200 associados, que representam ao menos 1.500 estabelecimentos, entre escritórios, escolas, hospitais e fundações.
Disque-manifestação

Moradora de Jundiaí, a personal trainer Érika Priscila Souza Alexandre, 29, trabalha na academia Bio Ritmo, do Conjunto Nacional. Carrega sempre uma mala a tiracolo. "Não sei se vou conseguir pegar metrô e trem de volta para casa nos dias de manifestação", justifica-se.

É sagrado: por volta das 17h, o celular toca. A filha de cinco anos quer saber se vai conseguir ver a mãe à noite.

"Depende das manifestações", responde Érika. Rolou protesto? Lá vai ela para o apartamento do namorado.

O administrador de empresas Franklin Stefanelli, 42, que mora na Paulista, sugere a criação de um "disque-manifestação". "Ajudaria tanto quem está livre e quer participar de um ato quanto quem mora na região e precisa se programar." Em dias de protestos, ele chega em casa bem antes do começo do ato ou só depois da 1h, quando normalmente a poeira já baixou.

A aposentada Nilza de Carvalho, 70, se sente trancafiada na própria casa. "Fecho tudo. Não suporto a barulheira. Mas hoje [ontem] meu apê respirou", disse, sem imaginar que o ar seria breve.

Editoria de Arte/Folhapress

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