Folha de S. Paulo


Médico deve ser obrigado a atuar no SUS, diz diretor da Unicamp

Diferentemente das entidades representativas dos médicos, o diretor e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Mario Saad, concorda com a ideia de obrigar recém-formados a trabalharem na rede pública.

Para Saad, faltam somente "ajustes" para que a proposta do governo federal fique satisfatória em relação às obrigações aos jovens médicos.

Enquete: Estudantes de medicina devem trabalhar no SUS para completar formação?

Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff apresentou projeto para melhorar a saúde pública no país. Entre as medidas estão a ampliação do curso de medicina de seis para oito anos. Nos dois anos adicionais, os estudantes terão de atuar no SUS.

A seguir, a entrevista concedida ontem.

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Folha - O que o sr. achou do plano?

Mario Saad - É desnecessário aumentar a duração do curso. Mas, na minha opinião, é dever de todo aluno que estuda em universidade pública retribuir o investimento à sociedade.

Assim, defendo que quem estudou em universidade pública trabalhe na rede pública, por um ou dois anos, na forma de serviço social obrigatório. Mas já como médico formado, que pode ser remunerado como tal e responder pelos seus atos.

Além disso, pode trazer insegurança à população dizer que ela está sendo atendida por um estudante.

Mas para esse modelo funcionar, precisamos reformular os currículos dos cursos de medicina.

Hoje, formamos bons candidatos à residência médica, às especialidades. Com algumas mudanças, podemos formar também ótimos médicos gerais.

O que o sr. acha da ampliação das vagas em medicina, proposta pelo governo?

Discordo. É desnecessário criar 12 mil vagas de medicina. Daqui a pouco teremos profissionais desempregados, porque estaremos formando excessivamente.

É uma falácia dizer que temos poucos médicos; há 1,9 médico por 1.000 habitantes no país. Não é pouco. Eles estão mal distribuídos.

Mas o Reino Unido, por exemplo, tem 2,7...

Com a expansão de vagas que houve recentemente, rapidamente chegaremos a esse patamar. O problema é a qualidade desses médicos.

Proponho que as boas faculdades, como USP, Unicamp, Unesp e Unifesp, possam ampliar suas vagas, com ajuda do governo federal, desde que ele se comprometesse a fechar os cursos ruins.

De qualquer forma, o governo teve o mérito de trazer à discussão a falta de médicos que existe em algumas regiões do país.

Muitas entidades médicas defendem que o maior problema é a falta de estrutura, não de médicos. O sr. concorda?

Concordo. Você precisa, por exemplo, de enfermeiro, educador físico, fisioterapeuta. Mas também não acho que precisamos esperar as condições melhorarem para mandar um médico para essas regiões [carentes]. As coisas têm de ser juntas. O médico vai até ajudar a reivindicar melhores condições.

As universidades públicas conseguiriam aumentar tanto o número de vagas?

Precisaríamos do apoio do Ministério da Saúde. Precisamos, por exemplo, de mais hospitais. Com isso, podemos ampliar as vagas de medicina. Você contrata médicos altamente qualificados que poderiam ser docentes dessas universidades e ser responsáveis pelo atendimento nesses hospitais.

Qual sua avaliação sobre os editais para levar médicos a regiões com deficit?

É um problema complexo e que todos os lugares do mundo enfrentam. Não tenho uma solução pronta para levar os médicos para regiões desfavorecidas. O que posso dizer é que boas condições de segurança e de trabalho são essenciais.
Sobre os estrangeiros, não vejo problemas de chamá-los, desde que passem pelo Revalida [exame de validação de diploma].


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