Folha de S. Paulo


Em dia de paralisações, Porto Alegre amanhece com clima de fim de semana

No Dia Nacional de Lutas, Porto Alegre acordou com as ruas vazias como num final de semana. Sem ônibus, com lojas fechadas e aulas suspensas, muitas pessoas ficaram em casa. O diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, estima que o trânsito da cidade esteja com 2% do fluxo de um dia de semana comum.

Entre as 8h e 9h, as avenidas Protásio Alves e Osvaldo Aranha, que estão entre as principais da cidade, tinham poucos carros circulando. Os ônibus ficaram parados nas garagens, impedidos por sindicalistas de prestar o serviço, apesar de decisão judicial que determinava a circulação de 50% da frota nos horários de pico (das 6h às 9h e das 16h30 às 19h30) e 30% nos demais horários. Corredores de ônibus e paradas estavam completamente vazias.

Os trens que ligam a região metropolitana até Porto Alegre deveriam funcionar pela manhã das 5h30 às 8h30, mas foram fechados às 7h30 devido a atos de vandalismo. Segundo a Trensurb (empresa de trens urbanos), um grupo invadiu trilhos impedindo trens de passar, na Estação Aeroporto, sendo contidos pela Brigada Militar. Também houve apedrejamentos de trens nos municípios de Esteio e Canoas. O mais forte deles quebrou vidros de um trem e levou a Trensurb a decidir pela suspensão do serviço. Ninguém se feriu.

Táxis e lotações circulam na cidade, mas o movimento também é pequeno. O motorista de lotação Renato Soares disse que no início da manhã a procura foi intensa e que chegou a transportar passageiros de pé --o que, em dias normais, é proibido neste meio de transporte. Mas, às 9h30, o número de passageiros era pequeno nas lotações.

A solução usada por alguns para chegar ao trabalho foi ir a pé. As calçadas tinham movimento acima do normal. O vendedor Leandro Machado caminhou do bairro São Geraldo (na zona norte) até o bairro Rio Branco (na região central), percurso que durou uma hora. A recepcionista Mirela Couto se antecipou aos possíveis problemas e dormiu na casa da mãe, mais próxima de onde trabalha do que sua casa.

COMÉRCIO

O clima de final de semana se deu pela paralisação em várias atividades. O Sindicato dos Bancários do RS (Sindibancários) aderiu à mobilização, e todas as agências bancárias da cidade devem parar. Os trabalhadores dos Correios também vão parar. As emergências e postos de saúde estão funcionando, mas consultas médicas dependem da adesão dos médicos à paralisação. Por isto, a prefeitura orienta quem tem consulta marcada a ligar antes para confirmar.

Escolas das redes pública e privada fecharam, além de algumas das principais universidades, como PUCRS, Ulbra e Unisinos.

Shoppings, lojas e supermercados anunciaram funcionamento normal. Mas no centro da cidade poucos estabelecimentos davam sinais de que iriam abrir. Algumas lojas já haviam colocado até tapumes nas fachadas para se proteger de possíveis atos de vandalismo. Estão programadas doze marchas pela cidade.

Às 9h30, uma loja do centro estava com as portas entreabertas e luzes acesas, mas ainda fechada. "Estamos esperando para ver se as outras lojas irão abrir", explicou um segurança.

João Ribeiro, gerente de uma farmácia que estava aberta, reforçou o temor dos empresários. "Quando começar um movimento mais brusco aqui no Centro, vamos fechar [a farmácia]. Não dá para colocar tudo em risco", disse.

O estabelecimento tem 14 funcionários, mas apenas dois trabalhavam nesta quinta-feira --o próprio João, que se deslocou de carro, e uma funcionária que mora perto do local de trabalho. "Não sou muito a favor de greve, mas alguém tem que fazer alguma coisa. Nosso país está complicado. Se ninguém fizer manifestação, o governo não se mexe", afirmou.


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