Folha de S. Paulo


Em sabatina, MPL diz que não quer criar um partido político

O MPL (Movimento Passe Livre) afirmou que não quer criar um partido político e que se tivesse sido convidado por algum a reivindicação pela revogação da tarifa do transporte público não teria acontecido.

"O contribuinte deve pagar pelo transporte público", diz MPL durante sabatina
"É difícil ser pacífico na rua porque o Estado é violento", diz MPL

A afirmação foi dada esta tarde durante sabatina da Folha e do portal UOL com dois integrantes do MPL, Caio Martins e Mariana Toledo.

"A política deve acontecer de outra lógica. Se a gente achasse que para conseguir a revogação da tarifa seria entrar em algum partido propondo isso, não daria certo. A gente não acha que é assim que se transformam as coisas. Não é por meio de um partido político que a gente vai fazer as coisas. É por baixo se mobilizando, se organizando", disse o militante Caio Martins.

O ativista falou sobre a Revolta do Buzu, ocorrida em Salvador em 2003, que teve uma grande mobilização estudantil, mas que fracassou em sua reivindicação final por serem aparelhadas por partidos políticos.

"[Os estudantes e partidos] sentaram para conversar com a prefeitura e na décima pauta reivindicada, que era a da tarifa, não foi negociada. Eu conto essa história porque vem dessa experiência frustrante de levar os princípios que a gente tem não é por essa via [de partido político] que se faz protesto. A questão do movimento ser independente de partido é que o movimento decida por si mesmo", disse Martins.

"O MPL existe por se um movimento autônomo, horizontal e apartidário. As coisas têm mudado quando as pessoas passaram a assumir as rédeas da própria história. As pessoas saíram na rua e deu certo a tarifa foi baixada", comemora Toledo.

Ao serem questionados sobre a aproximação que partidos políticos vêm fazendo do movimento, os integrantes citaram a proposta do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) de criar um passe livre estudantil, a qual chamaram de "oportunista".

Segundo os militantes, o projeto é uma maneira política de se aproximar dos jovens, que é a parcela que mais tem se mobilizado, segundo eles, mas restringe o direito do transporte aos demais usuários.

"Transporte é um direito universal para população inteira. O projeto do Renan Calheiros é mais um projeto oportunista de desmobilizar os estudantes do que uma tarifa universal. Se Renan Calheiros estivesse defendendo a tarifa zero seria outra coisa", afirmou a dupla.

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Sobre convocar novos atos em nome do transporte público, o MPL afirmou que nunca saiu das ruas e que não dispensa convocar novos protestos.

"A gente esta na rua de uma forma ou de outra. Estivemos na abertura da CPI dos transportes, a gente esta falando da tarifa zero em todos os lugares. A gente nunca vai sair das ruas. A gente acha que o importante é pontuar para o conjunto da população que o transporte é um direito. A gente não chamou protestos para semana que vem, mas isso não quer dizer que não iriemos convocar outros", afirmou a dupla.

Os ativistas evitaram falar sobre o fato dos parlamentares terem derrubado a PEC 37, emenda constitucional que reduzia o poder de investigação do Ministério Público e dava às policiais exclusividade na condução de inquéritos.

"Realmente a gente não se importou em debater a PEC 37. A gente é um movimento social que discute transportes", pontuou Toledo.

A dupla também foi questionada sobre o fato das passeatas terem trazido tantas reivindicações reprimidas.

"A gente sabia que poderia ganhar uma proporção grande. O que de fato foi interessante é que na luta contra o aumento da passagem as pessoas perceberam que se poderia mudar lutando. Agora é possível sair as ruas para conseguir alguma coisa, lutar vale a pena. Eu estava sexta-feira na Paulista e eu escutei um protesto: 'oh oh oh a zona leste chegou'. Não sei quem organizou não sei qual a pauta, mas eram pessoas que sabiam fazer protesto também e com as pautas das mais diversas".

No fim da tarde de quarta-feira (26) um grupo promoveu um pequeno protesto em frente ao vão-livre do Masp. Ainda na sabatina, o editor de "Cotidiano", Alan Gripp, disse que havia uma parcela pedindo a volta do regime militar e perguntou se os militantes se preocupavam com isso. "Isso preocuparia se tivesse mais de mil pessoas. As nossas [manifestações] tiveram 100 mil", disse Martins.

A sabatina, aberta ao público, ocorreu nesta tarde no Museu da Imagem e do Som, na zona oeste de São Paulo. O evento foi transmitido ao vivo pelo portal UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha.

A discussão traz a mediação da repórter especial Patrícia Campos Mello e a participação de Alan Gripp, editor de "Cotidiano", de Uirá Machado, editor-assistente de "Opinião", e da repórter do UOL Notícias Janaina Garcia.


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