Folha de S. Paulo


Análise: Após queda da tarifa, qualidade dos ônibus é colocada em xeque

Duas semanas de protestos forçaram a redução das tarifas de ônibus, trens e metrô de R$ 3,20 para R$ 3.

O que está em xeque agora é a qualidade do serviço. Afinal, de que adianta um ônibus mais barato, mas que circula a 13 km/h mesmo em pistas exclusivas, metade da velocidade que seria ideal?

Ou, então, uma rede de metrô limitada a 74 km, pouco mais de um terço da que existe na Cidade do México, que começou a implantá-la na mesma época que São Paulo?

Com a redução da tarifa, os subsídios dos cofres do Estado e da prefeitura para bancar a operação de ônibus, metrô e trens vão aumentar R$ 385 milhões só em 2013.

Esse dinheiro não significa muito se a intenção é construir metrô --não tem sido suficiente nem para 1 km.

Mas faz diferença se a meta é construir corredores de ônibus --daria para fazer um semelhante aos 9 km do Vereador José Diniz/Ibirapuera.

TRILHOS E PNEUS

Na Grande São Paulo, perto de dois terços dos passageiros ainda se deslocam sobre pneus, em ônibus municipais e intermunicipais.

Em tese, seria ideal que mais gente fosse transportada sobre trilhos, por ter maior capacidade e não sofrer as mesmas interferências dos ônibus no tráfego urbano.

Mas essa meta esbarra em ao menos três fatores: 1) a superlotação da rede atual; 2) a demora para tirar linhas de metrô do papel, que tem passado de oito anos; 3) os custos, entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões por km.

Tudo isso reforça a necessidade de apostar em corredores de ônibus, como opções mais baratas --entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões por km-- e possíveis de implantar em até dois anos.

OPORTUNIDADE

Não bastam, porém, as pistas exclusivas. A qualidade também depende da empresa que prestará os serviços.

O futuro dos ônibus paulistanos estará em jogo por uma licitação da Prefeitura de São Paulo que vai selecionar novas viações e cooperativas por até 15 anos.

O negócio, estimado em mais de R$ 45 bilhões, será definido no segundo semestre deste ano.

Essa é a oportunidade para assinar contratos com novos parâmetros de qualidade. Por exemplo, prevendo mais descontos nos pagamentos de quem não cumprir intervalos mínimos ou mantiver ônibus superlotados.

Também é a chance de discutir a lucratividade dos chamados "barões do asfalto".

A prefeitura pode fazer mais exigências e tentar pagar uma remuneração menor que a atual --que varia pelo número de passageiros.

São medidas que devem ser encampadas pelos manifestantes que conseguiram a redução da tarifa para R$ 3.

O mistério é saber se haverá interessados -já que, na última grande licitação, há dez anos, praticamente não houve disputa.

Editoria de arte/Folhapress
Clique na imagem para ampliar: infográfico mostra dados sobre o sistema de transporte coletivo de São Paulo
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