Folha de S. Paulo


Protestos viram tema de aula em escolas de São Paulo

Se está difícil para os adultos entenderem o que está acontecendo nas manifestações que tomaram conta do país nos últimos dias, está mais complicado ainda para as crianças e os adolescentes.

A demanda dos jovens por mais informações é tão grande que algumas escolas de São Paulo passaram a debater o tema em sala de aula em disciplinas como história, geografia e redação.

"Abrimos espaço na aula para contextualizar o que está acontecendo. Os estudantes traziam muitas questões", diz Walter Maejima, professor de geografia do colégio São Luís.

A professora de história do colégio Santo Américo, Raquel dos Santos Funari, sentiu a mesma demanda.

"Eles querem saber o que está acontecendo. Relacionei o tema em aula com manifestações que aconteceram na Europa no século 18", conta.

A Folha acompanhou uma aula de sociologia no 2º ano do ensino médio no colégio Santa Maria para ver como as manifestações estão sendo tratadas em classe e quais são as questões dos estudantes.

De acordo com o professor, o antropólogo Bernardo Fonseca Machado --que escrevia na lousa palavras como "alfabetização política", "transporte" e "partidos"--, o interesse dos alunos é crescente.

Avener Prado/Folhapress
Professor Bernardo Fonseca Machado, 26, dá aula de sociologia no colégio Santa Maria e fala sobre manifestações no Brasil
Professor Bernardo Fonseca Machado, 26, dá aula de sociologia no colégio Santa Maria e fala sobre manifestações no Brasil

"Quando comecei a lecionar aqui, os alunos nunca tinham participado de nenhuma manifestação. Hoje isso mudou." Da turma do 2º ano, 10% dos alunos estiveram nos protestos recentes.

Alguns até reclamam por não terem estudado o tema mais cedo. "Deveríamos ter discutido essas questões [como alfabetização política] antes de as manifestações começarem", disse João Pedro Martins, 16. Os alunos concordaram com a cabeça.

REFLEXÃO POSITIVA

Para a psicopedagoga Neide Barbosa Saisi, da PUC-SP, essa reflexão nas escolas e em casa é "bastante positiva".

"O que é democracia? O que é participar? Qual é a função da PM na sociedade? Essas questões podem ser debatidas em aula", explica.

Os alunos, especialmente do ensino médio, relatam os professores, são os mais ansiosos por informações.

"Muitos deles trazem a opinião dos pais", conta a professora de redação Roberta Baradel. Ela dá aula no Arbos, da rede Uno Internacional, e na escola municipal Oscar Niemeyer, entre outras escolas de São Caetanos do Sul.

"Depois do debate, muitos mudam de ponto de vista."

Baradel trabalhou o tema dos protestos em redações usando imagens e textos jornalísticos. Nas próximas aulas deve debater os rumos dos protestos agora que tarifa baixou --de R$3,20 para R$3.

Mas o assunto não está apenas na sala de aula. Na Escola Internacional Alphaville, por exemplo, os alunos têm se reunido em uma espécie de assembleia, no horário de aula, para discutir o tema. Esse encontro é parte da proposta pedagógica da escola.

E fora da escola? Pais e professores devem incentivar os estudantes a participarem dos protestos nas ruas?

"Como mãe, teria medo. É preciso mostrar que há um risco", diz Saisi, da PUC-SP.


Endereço da página:

Links no texto: