Folha de S. Paulo


Jornalista diz que PM o obrigou a apagar imagens de protesto no Recife

Um jornalista afirma que foi obrigado pela Polícia Militar de Pernambuco a apagar as imagens que fez de policiais batendo com cassetetes em manifestantes para encerrar um protesto na noite de sexta-feira (21), no Recife.

O repórter Fábio Jardelino, 23, do portal "NE10", cobria a manifestação desde o final da tarde. Segundo ele, o ato que bloqueou a avenida Agamenon Magalhães, uma das principais da cidade, seguia pacífico até que, por volta das 21h, a PM decidiu encerrar o protesto.

"Os policiais começaram a bater nos manifestantes com os cassetetes para eles andarem mais rápido", afirmou Jardelino.

O jornalista filmava a ação próximo ao prédio do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), quando policiais gritaram para que ele saísse do caminho. Na calçada, afirma, ele foi abordado por PMs.

"Pegaram meu crachá, conferiram os dados, me revistaram e pediram para olhar minha bolsa", disse o jornalista.

O repórter de um jornal que também acompanhava a manifestação tentou intervir a favor de Jardelino, mas foi afastado pelos policiais.

O jornalista diz que deixou ligada a câmera que registrou toda a ação. Ao perceber que era filmado, um dos policiais exigiu que as imagens fossem apagadas. "Eles disseram 'desligue, desligue! Apague a imagem. Desligue a câmera senão a gente vai levar'", afirmou o repórter.

O repórter disse não ter anotado o nome dos policiais porque eles usavam capas de chuva que impediam a identificação.

Jardelino afirmou que já próximo à praça do Derby, onde a manifestação havia começado, os policiais dispersaram os manifestantes com tiros de bala de borracha para o alto e com spray de pimenta.

OUTRO LADO

À Folha o secretário estadual de Defesa Social, Wilson Damázio, disse não ter conhecimento da abordagem ao jornalista, mas confirmou que a PM agiu para dispersar os manifestantes e "evitar um confronto entre as pessoas que estavam impedidas de passar [devido ao bloqueio das vias]".

"Depois de mais de quatro, cinco horas de interdição da via, a principal artéria que liga a zona norte à zona sul, os policiais realmente agiram porque já estava havendo um abuso, um desrespeito total à liberdade de ir e vir das pessoas", afirmou Damázio.

Em entrevista no início da semana, o governador Eduardo Campos (PSB) havia dito que a PM não usaria força "em hora nenhuma" durante a manifestação de quinta-feira (20), que reuniu 52 mil pessoas.

"Aquilo que a gente prometeu no protesto de quinta-feira, nós cumprimos. Agora, nesse protesto de ontem, a polícia foi obrigada a agir para não deixar a cidade entregue a vândalos", disse o secretário.

Em janeiro do ano passado, a Polícia Militar já havia reprimido estudantes que protestavam contra o reajuste das tarifas de ônibus.


Endereço da página:

Links no texto: