Folha de S. Paulo


Após suspender protestos, Movimento Passe Livre de SP volta atrás

O MPL (Movimento Passe Livre) anunciou na manhã de ontem a suspensão, por tempo indeterminado, de novos atos na cidade de São Paulo depois da proliferação de protestos violentos pelo país. No final da noite, entretanto, o movimento recuou e divulgou nota afirmando que os atos vão continuar na cidade.

Segundo Caio Martins, 19, um dos integrantes, as declarações dadas pelo grupo pela manhã não foram bem compreendidas. "Todo mundo publicou uma coisa num tom que não é isso. Você acha que vamos parar de fazer lutas? Não vamos", afirmou.

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Segundo ele, o grupo vai agora planejar os novos atos, mas não há nada marcado.

"Protesto não é todo dia. Não temos data, mas uma hora vai acontecer. Acabamos de vencer, vamos vencer mais. Agora temos que formular o que vamos exigir."

Durante o primeiro anúncio, de interrupção dos atos, o Movimento Passe Livre afirmou que um dos motivos para a decisão foi a suposta "infiltração" de "grupos conservadores" nas manifestações.

O recuo foi decidido anteontem, depois que grupos "antipartido" hostilizaram manifestantes com bandeiras do PT, PSTU e PSOL durante um ato que serviria de "comemoração" pela redução da tarifa de transporte na capital.

Na noite de ontem, pouco antes da nova nota do MPL, movimentos sociais e partidos de esquerda começaram uma reunião para discutir a necessidade de apoio a novos atos que forem programados.

REDUÇÃO

A escalada de protestos pelo país ganhou força a partir do último dia 6 em São Paulo, quando o Passe Livre levou 2.000 pessoas às ruas contra o aumento da passagem de R$ 3 para R$ 3,20.

Treze dias depois, já com a adesão dos protestos em pelo menos 12 Estados, São Paulo, Rio de Janeiro e outras seis capitais reduziram as tarifas.

As reduções foram anunciadas no dia 19, quando os protestos já reuniam 215 mil pessoas em todo o país. Anteontem, mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas.

"Conquistamos a reivindicação e, no momento, não faremos mais protestos. Vamos agora discutir para conquistar nosso principal objetivo, que é a tarifa zero", disse pela manhã Erica de Oliveira, 22, integrante do MPL.

Desde a última segunda-feira, o grupo vinha mantendo diálogo com o prefeito Fernando Haddad (PT) e seus interlocutores para que a tarifa fosse reduzida.

No entanto, líderes do movimento e integrantes do governo negam qualquer acordo para encerrar as manifestações após a redução do valor das passagens de ônibus, trens e metrô, que voltarão a custar R$ 3 a partir da próxima segunda-feira.

Para secretários de Haddad, o Passe Livre optou pela suspensão também por causa do desgaste sofrido com a disseminação dos protestos violentos, que já causaram duas mortes --em Ribeirão Preto e Belém (PA).

Já o movimento diz que a violência só ocorreu onde houve repressão policial.

Erica admitiu que, embora o MPL tenha coletivos em outros Estados, as manifestações ultrapassaram a questão do transporte público e, com isso, não havia maneiras de controlar atos país afora.

Estados como Pará não contam com representantes do Passe Livre e mesmo assim houve protestos.

Rafael Siqueira, do Passe Livre, disse que houve invasão de grupos "neofascistas".

"Eles entraram nos últimos atos para defender propostas que não nos representam", afirma. Ele cita entre as causas que surgiram a redução da maioridade penal.

AGRESSÃO

Horas após uma onda de manifestações violentas em todo o país, o Movimento Passe Livre divulgou nota condenando o que chamou de "atos de violência" contra partidos. A nota, porém, não faz menção à depredação de prédios públicos e saques ocorridos em outras cidades, como Rio e Brasília.

"O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. Repudiamos os atos de violência direcionados a essas organizações durante a manifestação de hoje [anteontem], da mesma maneira que repudiamos a violência policial", diz a nota.

Em ato na avenida Paulista, bandeiras do PT foram arrancadas de manifestantes e queimadas. Segundo o movimento, desde os primeiros protestos, as "organizações" --entre eles PT, PSTU, PCO e PSOL-- fazem parte.

"Oportunismo é tentar excluí-las da luta que construímos juntos", diz.

Colaborou TALITA BEDINELLI


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