Folha de S. Paulo


Manifestação transforma Campinas (SP) em cenário de combate

O que era para ser uma manifestação pacífica para reivindicar melhorias e transparência no transporte público acabou transformando o centro de Campinas (a 93 km de São Paulo) em uma praça de guerra na noite desta quinta-feira (20).

O ato começou com clima de festa no largo do Rosário e percorreu as ruas da cidade com pessoas nas janelas saudando os manifestantes.

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Segundo estimativas da PM e da organização do movimento, entre 30 e 40 mil pessoas saíram às ruas.

A confusão começou por volta de 18h30, quando um pequeno grupo de 40 pessoas chegou à prefeitura e começou a hostilizar a Guarda Municipal, que cercava o prédio com 220 homens.

Por 30 minutos foram lançadas bombas caseiras e pedras contra o prédio sem que os guardas revidassem.

Um grupo de dez manifestantes negociava com o comando para não haver violência, mas a situação ficou insustentável. A Guarda Municipal revidou com spray de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha.

Um dos manifestantes que negociava foi atingido por balas de borracha na testa e nas costas. Segundo ele, os tiros foram à queima-roupa.

"Aqui não tem gente só para badernar. É um grupo pequeno que está jogando bomba. Não acho certo a violência da polícia, mas não acho certo depredarem patrimônio público", disse o estudante Rodrigo Fernandes, 34.

Vidraças foram quebradas e vidros blindados que separam o saguão da área externa da prefeitura racharam com as pedras e bombas.

Ao menos quatro guardas e dois manifestantes ficaram feridos no confronto.

Cerca de 3.000 manifestantes se concentravam na avenida em frente à prefeitura quando, uma hora depois, 60 homens do Batalhão de Choque da PM chegaram por trás do prédio jogando bombas.

Após 30 minutos de confronto, o Choque ficou sem munição e bombas e teve de recuar de volta à prefeitura. Os manifestantes então caminharam de volta ao local cantando o hino nacional e pedindo por paz de ambas as partes.

O clima era tenso, mas estava controlado, quando mais munição chegou e a Guarda Municipal jogou uma bomba em direção às pessoas, que estavam sentadas.

O confronto começou novamente e os manifestantes correram para o centro.

"Não esperávamos tanta gente. É importante que as pessoas entendam que fizemos um planejamento para ser pacífico", disse o comandante do policiamento do centro, capitão Jaime de Souza.

Viaturas e motos da polícia passaram a avançar sobre manifestantes que se dispersavam pelas ruas e a jogar bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral dos carros.

Enquanto isso, um grupo de manifestantes passou a enfrentar o Choque na praça Carlos Gomes. Moradores dos prédios, que antes acenavam para os manifestantes, fecharam as janelas, assustados.

Uma banca de jornal na praça foi depredada por cerca de 50 pessoas e todos os produtos foram saqueados.

Lojas de roupa e um supermercado, segundo os próprios manifestantes, também foram invadidos. Segundo a PM, três pessoas foram detidas.

"Extrapolou a expectativa dos movimentos organizados. Teve muita espontaneidade e faltou uma unidade mais clara. Infelizmente acabou em confronto", disse o advogado Filipe Monteiro, 26, do Juntos!, grupo ligado ao PSOL que compõe a Frente Contra o Aumento.

O prefeito Jonas Donizette (PSB) anunciou na noite de quarta (19) que a passagem, de R$ 3,30, voltaria a R$ 3.

"Para além da redução da passagem, precisamos criar mecanismos de controle sobre as empresas de transporte, abrir os livros-caixa até para ver se justifica um aumento", afirmou Monteiro.


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