Folha de S. Paulo


Governos precisam 'abrir ouvidos à sociedade', diz Eduardo Campos

No dia seguinte aos protestos que eclodiram em diversas cidades do país, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) disse que é preciso que os governos "abram os ouvidos à sociedade" e aceitem dialogar para ouvir a pauta de reivindicações dos manifestantes, a quem chamou de "brasileiros que querem melhorar o Brasil".

"É fundamental saber dialogar. É fundamental que os governos abram os ouvidos à sociedade, sentem e possam encontrar os caminhos e entendimentos", afirmou.

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Possível adversário de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais do ano que vem, Campos disse acreditar que a presidente esteja disposta a ampliar o diálogo.

O governador afirmou que a "pauta do século 21" mudou, que as pessoas estão em busca de uma "melhoria na qualidade de vida", mas que nem todos os políticos e movimentos sociais estão "conectados" com os anseios do povo. "Alguns, efetivamente, estão completamente desconectados", disse.

"É claro que essa não é só uma busca por redução de centavos nas passagens. É uma busca mais complexa, é uma pauta muito mais ampla do que essa", disse o governador.

Apesar da ponderação, Campos convocou a imprensa de última hora nesta terça-feira (18) para anunciar redução de dez centavos em todas as tarifas de transporte público no Recife e na região metropolitana.

Com o desconto, a passagem mais barata custará R$ 1,40 e a mais cara, R$ 3,35.

O benefício poderia ter sido dado desde o dia 1º de junho, quando o governo federal concedeu isenção das alíquotas de PIS e Cofins para o setor de transporte público.

O governador, no entanto, disse que a redução estava sendo estudada e passará a valer na quinta-feira (20), data em que está previsto um protesto no centro do Recife.

NOVO DISCURSO

Eduardo Campos lembrou que já participou de manifestações nas ruas e disse que protestaria se não fosse governador. "Se eu tivesse a idade deles e não tivesse essa função [governador], eu iria [ao manifesto], como fui a outros", afirmou.

O governador disse que a Polícia Militar não usará a força "em hora nenhuma" durante a manifestação de quinta-feira.

A postura atual diverge da que adotou em janeiro do ano passado. Durante manifestações no centro da cidade, houve forte repressão policial ao movimento estudantil.

Uma garota levou uma gravata e policiais usaram balas de borracha e bombas de efeito moral contra os manifestantes. O governador acompanhou os protestos dos Estados Unidos, onde cumpria agenda administrativa.

Quando retornou ao Brasil, criticou manifestantes por apedrejarem ônibus --apesar de não ter havido registro de depredação-- e saiu em defesa da ação policial.

Diante da repercussão negativa, convocou os estudantes à sede do governo e pediu desculpas por "por qualquer ação arbitrária cometida pela polícia".

CONFRONTO

Ontem, durante o maior protestos dos últimos tempos, policiais do Batalhão de Choque entraram em confronto com um grupo de cerca de 300 manifestantes após a invasão do prédio da Assembleia Legislativa do Rio. Ao menos, oito pessoas foram detidas.

A invasão da Alerj aconteceu por volta das 23h e durou alguns minutos, até a chegada da Tropa de Choque. Os policiais chegaram às 23h15 em vinte carros e um blindado, o chamado caveirão, e atiraram várias bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes, que correram em direção à Candelária.

O ato tinha começado pacificamente seis horas antes, reunindo 100 mil pessoas. Antes da invasão, um grupo de 80 policiais, sendo vinte deles feridos, chegou a ficar encurralado pelos manifestantes no prédio da Alerj.


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