Folha de S. Paulo


'Quem deveria financiar o transporte público é o transporte individual', diz Haddad

O prefeito Fernando Haddad afirmou ser a favor do financiamento do transporte público por quem usa o transporte individual. "Às vezes precisamos tomar decisões mais ousadas", disse. O prefeito acredita que a sobretaxar veículos privados "dialoga também com a questão ambiental".

"Como cidadão, acho que quem deveria financiar o transporte público é o transporte individual. Além de melhorar a mobilidade, incentivando quem tem carro a usar o transporte público, já que a gasolina seria mais cara e as tarifas mais baratas, ainda existem os benefícios ecológicos do processo", disse.

Outra alternativa que levantou foi revogar a lei que garante que haja cobrador em todos os ônibus. "Há possibilidade de revogar essa lei, mas não estou cogitando isso ainda". Segundo Haddad, os cobradores são responsáveis por 12% do valor da tarifa.

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O secretário de Transportes, Jilmar Tatto, concordou com o prefeito. "O cara que usa carro pode pagar um pouco a mais para usar uma área comum, que é a rua."

Tatto disse também que aumentar a velocidade dos corredores de ônibus, procurar fontes de financiamento e dar continuidade aos debates com a população devem acelerar a diminuição dos custos do transporte público.

O prefeito anunciou que está disposto a discutir a redução da margem de lucro dos empresários e com o governo, pedindo mais desonerações. Mas salientou que a decisão de revogar a tarifa "vai impactar as finanças do país inteiro".

"O prefeito de Porto Alegre me ligou e disse: 'nessa marcha, as prefeituras vão quebrar'", afirmou Haddad.

PROTESTOS

A viagem da presidente acontecerá depois de centenas de milhares de pessoas irem às ruas ontem em 12 capitais do país para protestar contra o aumento das tarifas de transporte público, corrupção, gastos da Copa do Mundo e para reivindicar a melhoria de serviços públicos, como saúde, educação e segurança, entre outras demandas.

Durante os protestos, os políticos também foram alvos, como a presidente Dilma, os governadores Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Cabral (PMDB-RJ) e o prefeito Fernando Haddad (PT-SP). Foi a maior onda de protestos políticos no país desde os caras-pintadas, em 1992, pelo impeachment do então presidente Collor.

A maioria das manifestações foi pacífica, mas houve vandalismo contra sedes do poder. Em São Paulo, um portão do Palácio dos Bandeirantes foi derrubado -- a polícia impediu a invasão. Na capital paulista, o ato reuniu ao menos 65 mil pessoas, segundo o Datafolha. Dos participantes, 84% disseram não ter preferência partidária. Um novo protesto está marcado para hoje, às 17h, na praça da Sé, no centro da capital paulista.

No Rio, onde o protesto reuniu 100 mil pessoas, um grupo atacou a Assembleia Legislativa --três pessoas foram atingidas por tiros. Em Brasília, militantes tomaram o teto do Congresso Nacional.


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