Folha de S. Paulo


Protesto contra a tarifa leva 40 mil às ruas do Rio

Gritando palavras de ordem como "Não é Turquia, não é a Grécia, é o Brasil saindo da inércia", "não tenho partido" e "abaixa a bandeira", em direção a militantes de partidos políticos com o PSTU e PSOL, a manifestação contra o reajuste das passagens de ônibus toma praticamente toda a avenida Rio Branco, no centro.

A Polícia Militar estimou em cerca de 40 mil pessoas até as 18h. Os organizadores não fizeram estimativa após o início da caminhada, mas a multidão ocupava, de forma compacta, cerca de 800 metros da avenida Rio Branco. A avenida tem 33 metros de largura.

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No final da passeata, por volta das 19h30, os manifestantes se dividiram. Enquanto parte seguia para a Cinelândia, um grupo grande dobrou na rua Araújo Porto Alegre, rumando em direção ao prédio da Assembleia Legislativa do Rio.

A polícia fechou o trânsito na avenida Antônio Carlos, que leva para a Alerj. Em um carro de som, um manifestante gritou: "ocupamos o Congresso Nacional". A multidão começou a gritar: "ocupa, ocupa, ocupa a Alerj" e "isso aqui vai virar um inferno".

Um manifestante soltou uma bomba do tipo cabeção de nego e foi vaiado pelos outros manifestantes.
O ato de protesto segue sem incidentes.

Das janelas dos prédios comerciais, pessoas jogam papel picado e acenam com panos brancos. Muitos manifestantes também vestem branco e levam flores. Uma gigantesca bandeira branca é carregada pelos participantes, a maioria jovens estudantes.

Ao final do dia, pessoas que saiam do trabalho, muitos usando terno, se somaram à multidão. As avenidas Presidente Vargas (no sentido Cinelândia) e Rio Branco estão fechadas ao trânsito.

Cerca de 600 estudantes da UFRJ (Universidade Federal do Rio) sairam do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) no centro do Rio em direção à Igreja da Candelária.

São alunos de várias faculdades da UFRJ de diferentes pontos da cidade que vieram em grupos de dez, para evitar a repressão policial.

"O povo brasileiro está se conscientizando de lutar pelos seus direitos", disse Carolina Genoves, 24, estudante de Direito.

Já era intensa a movimentação de pessoas saindo do trabalho por volta das 16h30 no centro do Rio. Muita gente caminhava rápido nas ruas e recorria ao metrô. Diversas lojas e prédios comerciais estavam fechados, com seguranças do lado de dentro observando a movimentação através dos vidros.

O trânsito também estava muito mais intenso do que o normal para o período. Na semana passada, outro dois protestos, de menor dimensão, tomaram as ruas do Rio.

Participando da passeata, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), disse ser "natural" o movimento, com as pessoas "reagindo à hegemonia de partidos que esqueceram seu programa original. É como o vômito necessário para depois se alimentar de novo", disse, descendo a Rio Branco.

À frente da passeata seguiam dois carros e duas motos da Polícia Militar, mais 50 guardas municipais.
Militante do PSTU e funcionário da Petrobras, Fábio Pardal foi "convidado" pelos manifestantes a sair da frente da passeata. Pardal carregava uma bandeira de seu partido.

"Lutamos muito durante a ditadura para termos o direito de nos organizar. Essa crítica aos partidos é causada pela classe política, principalmente pela decepção com o PT", disse.

AS PALAVRAS DE ORDEM

As palavras de ordem ouvidas na manifestação que ocupa o centro do Rio vão desde reclamações contra o preço das passagens à referências à Turquia.

A multidão grita "se a passagem não baixar, o Rio vai parar" e "mãos ao alto, a passagem é um assalto"

Alguns se dirigem aos policiais que acompanham a passeata cantando "querido fardado, seu filho anda de táxi?"

Outros gritam "Argentina", referência ao fato de o prefeito Eduardo Paes ter dito em entrevista ao jornal inglês "The Guardian" que "se mataria" caso o Brasil perca para a Argentina na final da Copa do Mundo.

Em determinado momento, os manifestantes começaram a gritar "acabou o amor, isso aqui vai virar Turquia" e xingavam o governador do Rio, Sérgio Cabral.


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