Folha de S. Paulo


Familiares criticam investigação militar sobre o incêndio na boate Kiss

Familiares de vítimas do incêndio na boate Kiss criticaram a investigação militar sobre as circunstâncias da tragédia e se manifestaram durante a apresentação do relatório da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, na manhã desta quarta-feira (12), em Porto Alegre.

Oito bombeiros foram indiciados (apontados como suspeitos) em inquérito da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que apurou as circunstâncias do incêndio. A investigação foi entregue hoje ao comando da corporação, que agora vai decidir se remete o caso à Justiça Militar.

O incêndio ocorrido no dia 27 de janeiro deste ano em Santa Maria provocou 242 mortes.

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Um dos pontos polêmicos analisados no inquérito militar foi a liberação da casa noturna por bombeiros que fiscalizaram o local. A investigação apontou que não houve falha deles na inspeção de itens como portas de emergência e a sinalização interna.

O comerciante Ildo Toniolo, que perdeu uma filha no incêndio e integra a associação de familiares, diz que o Corpo de Bombeiros falhou ao não dar prioridade na fiscalização de um local que recebia mil frequentadores.

O licenciamento da casa noturna havia vencido em agosto de 2012, e o estabelecimento estava na fila para ser vistoriado.

"Se houvesse um mínimo de bom senso das pessoas que fizeram a primeira vistoria naquele prédio jamais funcionaria ali uma boate. Não havia como construir rotas de fugas. As três laterais são todas bloqueadas por prédios", disse Toniolo.

Um dos integrantes da investigação, o major Emílio Barbosa Teixeira disse que o bombeiro que não libera um local que cumpre normas técnicas está sujeito a ser punido por abuso de autoridade.

Durante entrevista à imprensa, uma mulher que perdeu um parente fez perguntas ao oficial encarregado do inquérito e questionou a existência de uma única porta de emergência. A associação de familiares e o movimento "Do Luto à Luta" levaram ao evento uma faixa com fotos dos 242 mortos na tragédia.

"Se a largura necessária para a evacuação do público estiver presente e a distância a percorrer tiver sido atendida, não há como reprovar o local. Na boate Kiss, na última inspeção, ele [Corpo de Bombeiros] cumpriu o que estava previsto legalmente no que se refere a esse item", respondeu o major.

A libertação em maio dos quatro suspeitos de responsabilidade na tragédia, que haviam sido detidos em janeiro, aumentou a indignação dos parentes de vítimas. Na semana passada, familiares e amigos dos mortos chegaram a bloquear uma rodovia federal em Santa Maria em protesto. (FELIPE BÄCHTOLD)


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