Folha de S. Paulo


Alunos do Mackenzie criticam promotor por incitar a violência na internet

O Centro Acadêmico dos estudantes de direito do Mackenzie emitiu nota de repúdio e pediu para a direção da faculdade averiguar os comentários publicados no Facebook do promotor Rogério Zagallo, que é professor do curso, em que ele xinga manifestantes do Movimento Passe Livre e incita a violência policial.

Na nota, divulgada segunda-feira (10), a entidade estudantil diz acompanhar "com grande tristeza a repercussão das declarações", e que as "manifestações do sr. Zagallo, que não são as primeiras no mesmo sentido, demonstram a incapacidade na compreensão da realidade político-social do nosso país, o que, de longe, não pode e não é aceito pela comunidade acadêmica" da universidade.

Corregedoria do Ministério Público investigará promotor que incitou violência
Promotor incita violência contra manifestantes e depois pede desculpas

"Muito nos entristece que a nossa faculdade ainda seja frequentada por posicionamentos limitados e injustificáveis para quem exerce a nobre função de professor", continua.

Também na segunda, a Corregedoria-Geral do Ministério Público informou que abriu procedimento para apurar o comentário. Em nota enviada à reportagem, o órgão diz que "instaurou reclamação disciplinar para apuração dos fatos atribuídos ao Promotor de Justiça Rogério Leão Zagallo, relativos a comentários nas redes sociais".

COMENTÁRIO

O comentário foi publicado no Facebook na última sexta-feira (7), durante os protestos contra o aumento das tarifas do transporte público. No domingo (9), o promotor apagou o texto e escreveu um novo, em que pede desculpas pela publicação.

"Estou há duas horas tentando voltar para casa, mas tem um bando de bugios revoltados parando a Faria Lima e a Marginal Pinheiros. Por favor alguém pode avisar a Tropa de Choque que essa região faz parte do meu Tribunal do Júri e que se eles matarem esses filhos da puta eu arquivarei o inquérito policial...Que saudades do tempo em que esse tipo de merda era resolvida com borrachada nas costas dos medras (sic)", dizia o texto.

Reprodução/Facebook
Postagem do promotor em rede social na noite de sexta-feira (7)
Comentário do promotor no Facebook na noite de sexta-feira (7) durante protesto contra o aumento da tarifa

Zagallo disse à Folha que publicou o comentário, mas que só mal-intencionados achariam que as declarações são sua opinião.

"Entendo como lícita e válida toda forma de protesto, debate e discussão sobre temas que estão na pauta da administração...o Movimento Passe Livre exercitou seu legítimo direito", escreveu no domingo, ao se desculpar.

Segundo ele, o texto "foi fruto de desabafo feito por pessoas que estavam há muito tempo paradas no trânsito, mas que tinham compromisso com seus filhos". Ele diz que se manifestou como cidadão e na qualidade de um "pai angustiado". "Foi uma forma de expressão, jamais caracterizando aquiescência com execuções ou arbitrariedades".

Em março de 2011, ele escreveu num processo que um policial deveria melhorar sua mira. "Bandido que dá tiro para matar tem que tomar tiro para morrer. Lamento que tenha sido apenas um dos rapinantes enviado para o inferno. Fica o conselho: melhore sua mira".

"RESPOSTA"

No dia seguinte à publicação polêmica, o advogado Marcelo Feller também usou a rede social para fazer um comentário, dizendo que defenderia "de graça" um manifestante que depredasse o carro do promotor em protesto.

Os dois juristas atuaram de lados opostos no julgamento do ex-seminarista Gil Rugai, condenado em fevereiro pela morte do pai e da madrasta.

"Não sei se quando falou em bugios (macacos), o promotor se referia aos negros que protestavam. Também não sei se suas saudades das borrachadas, são saudades dos anos de chumbo no Brasil.

Mas não farei como ele, incitando a morte de outra pessoa.

Não sou dono de uma região nem de um tribunal do júri, e não tenho poder para arquivar inquéritos.

Mas eis aqui o que eu posso fazer:

Alguém poderia avisar a esses "petistas de merda", "filhos da puta", "bugios revoltados" que, se um deles, por acaso resolver se revoltar com a atitude do promotor e, em forma de protesto, depredar o carro dele, arrancar os espelhinhos, furar os pneus, martelar o capô, riscar a lataria, etc., eu os defenderei de graça."


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