Folha de S. Paulo


Greve deixa 300 mil pessoas sem ônibus em Santa Catarina

Mais de 300 mil moradores da Grande Florianópolis foram afetados pela greve de motoristas e cobradores nesta segunda-feira (10). Eles reivindicam reajuste salarial e redução da jornada de trabalho.

A paralisação ocorre pelo 14º ano consecutivo, em meados de maio, mês da negociação anual de salários. A maioria delas terminou com aumento da tarifa de ônibus.

Após uma reunião na Justiça, os grevistas estão reunidos no início da noite de hoje para decidir se aprovam a nova proposta das empresas.

Durante o dia, a greve piorou o trânsito, reduziu o movimento no comércio, deixou escolas quase sem alunos e fez moradores perderem compromissos.

A Prefeitura de Florianópolis implantou, em caráter emergencial, um sistema de transporte alternativo com 200 vans e ônibus escolares, mas a medida não foi suficiente para atender à demanda.

A estudante Cleo Theodora, 19, quase perdeu uma entrevista de emprego no centro de Florianópolis à tarde. Foi salva pela carona de um amigo da família. "Eu iria de ônibus, mas com a greve não tinha como ir. Sorte que consegui a carona", disse ela, que estuda educação física e, de manhã, não conseguiu ir à aula.

O vigilante Moacir dos Santos, 44, chegou ao trabalho às 10h, três horas depois do normal. "No ponto (de ônibus) me disseram que estava tudo parado. Só vim trabalhar porque a firma me buscou", disse ele, que mora na parte insular e trabalha em um condomínio da área continental da cidade.

O prefeito Cesar Souza Júnior (PSD) disse que a "greve é injusta e ilegal" e fruto de um "sindicalismo selvagem". Ele disse que o movimento não terminará com reajuste de tarifa, como em anos anteriores. "Vou cobrar uma atitude das empresas, pois elas são as operadoras do serviço. Ninguém pode estar acima da lei", declarou.

O presidente do sindicato das empresas, Waldir Gomes, informou que a frota está pronta para rodar, mas nenhum ônibus saiu das garagens por causa de parte dos motoristas e cobradores. "O sindicato [da categoria] não permitiu que o trabalhador viesse trabalhar."

A direção do sindicato dos trabalhadores não atendeu as ligações da Folha. Em nota, a categoria diz que "entende os transtornos causados à população por conta da greve, e pede a compreensão de todos até que o conflito seja resolvido".

Na sexta-feira, o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) determinou que 100% da frota circule nos horários de pico e 50% no restante do dia sob pena de multa diária de R$ 100 mil.

Os trabalhadores querem redução da jornada de trabalho de 6h20 para 6h, aumento salarial de 5% (além da inflação) e vale-alimentação de R$ 460. As empresas ofereceram proposta menor. O preço das passagens na região é R$ 2,90.

HISTÓRICO

Nas greves de anos anteriores, um dos episódios mais violentos foi registrado em 2004, quando estudantes e polícia entraram em confronto no centro da cidade depois que os manifestantes tentaram fechar a ponte Pedro Ivo Campos, único acesso à ilha. Os protestos duraram uma semana.

No ano passado, a greve começou na última semana de maio e durou três dias. Terminou depois que as empresas reajustaram os salários de motoristas e cobradores e anunciaram um plano para reduzir a jornada de trabalho. Houve aumento de tarifa, mas a administração municipal o atribuiu ao custo do sistema.


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