Folha de S. Paulo


'Nunca abreviei a vida de ninguém', diz médica acusada de mortes no PR

Denunciada sob acusação de provocar a morte de pacientes numa UTI de Curitiba, a médica Virgínia Helena Soares de Souza disse neste domingo (9), em entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, que é vista "como demônio" e negou ter antecipado mortes.

"Eu nunca abreviei a vida de ninguém. Eu só exerci exatamente a medicina como tem que ser", afirmou.

Essa é uma das primeiras entrevistas da médica desde sua prisão, em fevereiro deste ano, ainda durante as investigações policiais.

Virgínia era chefe da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba, um dos maiores prontos-socorros da cidade, e ficou presa em caráter preventivo durante um mês.

Segundo a Promotoria, a ex-chefe da UTI ordenava a aplicação de bloqueadores neuromusculares ou anestésicos nos pacientes e então diminuía a quantidade de oxigênio nos respiradores ligados às vítimas, provocando a morte por asfixia, para fazer "girar" os leitos.

A denúncia afirma que todos esses passos estão registrados nos prontuários médicos e em desacordo com os protocolos a serem seguidos clinicamente.

Na entrevista, Virgínia voltou a negar os crimes. "Inocente ou culpado, depende de você agir errado e com má fé. Eu exerci a medicina."

Reprodução/TV Globo
Nunca abreviei vida de ninguém', diz acusada de acelerar mortes em UTI
Virgínia Helena Soares de Souza, ex-chefe de UTI de Curitiba, nega acusações de antecipar morte de pacientes em entrevista

A médica comentou um dos casos pelos quais foi denunciada à Justiça, o do paciente Ivo Spitzner, que morreu em janeiro deste ano.

"Era um paciente que já tinha uma doença vascular, estava acamado desde 1996, com episódios de derrames. Foi um quadro que não tinha mais retorno", afirmou.

Virgínia também destacou que todas as decisões na UTI eram tomadas em conjunto com outros médicos. "Isso [o tratamento] é definido com o cirurgião, com todos os médicos. O doente não é de um."

Sobre as declarações gravadas por escutas telefônicas, nas quais fala que irá "sair" com pacientes e que quer "desentulhar a UTI", disse que fez "um desabafo".

"Foi uma infelicidade, um desabafo. Porque o número de pedidos de vagas é extremamente alto. É um ambiente tenso."

Virgínia e outros sete ex-profissionais do hospital são réus por sete homicídios, num processo que corre sob sigilo. Outras 334 mortes estão sob investigação do Ministério Público.


Endereço da página: