Folha de S. Paulo


Opinião: Incapacidade de controle das prisões fica cada vez mais clara

A desativação do Carandiru, símbolo das mazelas prisionais, não produziu alteração no grave quadro da situação carcerária paulista.

O processo de encarceramento continua num ritmo assustador e, por mais unidades que sejam construídas, elas serão sempre insuficientes para dar conta da demanda crescente por vagas e já "nascem" superlotadas.

Relatos obtidos em visitas a unidades prisionais permitem compor um breve quadro dos dramas humanos escondidos atrás das muralhas.

Presos condenados e/ou com o regime semiaberto em unidades destinadas à presos provisórios; alimentação de péssima qualidade e em quantidade insuficiente; falta de colchões, de materiais de higiene e limpeza; presos doentes, com feridas expostas, fraturas, câncer em estágio avançado.

Difícil traduzir o horror do que se vê e do que se ouve nas prisões para o texto escrito. Carência de tudo, dores (físicas mesmo), desprovimento dos direitos mais básicos, miséria material e moral.

A superlotação é a ponta de um iceberg de problemas que tornam esse sistema caótico e ineficiente.

Num cenário em que a desproporção entre funcionários (mal pagos e desmotivados) e presos é cada vez maior, torna-se cada vez mais clara a incapacidade do Estado em exercer o controle nas prisões.

Diante disso, é considerando o estrito poder que o PCC exerce sobre a população carcerária que podemos compreender como é possível manter a ordem sobre o caos.

CAMILA NUNES DIAS é socióloga, professora da UFABC, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP e autora do livro "PCC: Hegemonia nas prisões e monopólio da violência"


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