Folha de S. Paulo


Após promessa, atrasa implantação de câmera antifurto no Galeão

Quase um ano e meio depois de um relatório da Polícia Civil do Rio de Janeiro apontar a falta de câmeras de monitoramento como um dos principais motivos para a alta incidência de furtos de bagagens no aeroporto internacional do Galeão, a promessa de aquisição de 1.560 câmeras, feita em janeiro do ano passado, não saiu do papel.

"Estamos iniciando processo de modernização do sistema de vigilância (STVV) e ele será implementado à medida em que a reforma do aeroporto for avançando", afirmou a Infraero, estatal responsável pela administração do aeroporto, por meio de sua assessoria.

No mês passado, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro enviou ofícios à Infraero e à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) questionando sobre as providências tomadas após o inquérito da polícia do Rio.

De acordo com a investigação policial, "a maioria" dos furtos de bagagem ocorre no interior dos porões das aeronaves. Furtos também ocorrem no trajeto do avião para as esteiras de bagagem.

Editoria de Arte/Folhapress

PONTOS CEGOS

Faltam câmeras de segurança -as que lá estão são "obsoletas", "sem qualidade de imagem", segundo o relatório- e há muitos pontos cegos sem cobertura.

Por lei, do check-in ao desembarque, as bagagens ficam sob responsabilidade da companhia aérea, que deve ressarcir o passageiro em caso comprovado de furto. A polícia do Rio também sugere que as companhias tenham câmeras no porão das aeronaves. A medida, segundo a Abear (Associação das Empresas Aéreas), é impraticável.

O relatório da polícia do Rio mostra que os dissabores de quem tem a mala violada e as compras da viagem furtadas poderiam ser evitados se fossem adotadas medidas e procedimentos prosaicos.

Os uniformes dos funcionários que manuseiam as bagagens, por exemplo, têm "desnecessariamente seis ou mais bolsos", de acordo com a polícia do Rio.

Vestiários localizados na área interna dos terminais permitem que os funcionários tenham acesso a mochilas e bolsas, dificultando o controle de objetos furtados.

Muitos funcionários são autorizados a entrar na área restrita portando uma bolsa pequena e não há nenhum tipo de revista ou controle quando eles saem da área.

Ainda que haja uma recomendação, por razão de segurança de voo, não há uma determinação legal proibindo funcionários de portar celulares e aparelhos eletrônicos no pátio de
aeronaves. "A recomendação não é seguida a risca, permitindo que qualquer funcionário entre com pequenos objetos, metálicos ou não, o que também viabiliza a saída desses objetos [eventualmente furtados] sem muitos questionamentos", diz o relatório.

O documento não dá números de ocorrências e os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio não discriminam por tipo de furto.

CUMBICA

No aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP) levantamento do concessionário privado GRU Airport obtido pela Folha mostra que foram registradas 21 casos de furto de objetos no interior das malas em março. Em fevereiro, foram 25.

O maior aeroporto do país anunciou que quer triplicar câmeras em quatro anos. A ideia é ter 6.000 equipamentos inteligentes que vão poder, por exemplo, detectar se uma mala suspeita for deixada no saguão após um determinado tempo.

Apu Gomes - 03.dez.2009/Folhapress
Câmeras de segurança no terminal 1 do aeroporto de Cumbica; ideia é triplicar o número de equipamentos em quatro anos
Câmeras de segurança no terminal 1 do aeroporto de Cumbica; ideia é triplicar o número de equipamentos em quatro anos

Segundo a polícia do Rio, é comum bagagens de voos internacionais que fazem escala em Guarulhos ou Campinas chegarem ao Rio abertas ou violadas já nos porões.

A Infraero diz que a segurança no Galeão foi reforçada nos últimos dois anos com a aquisição de 21 pórticos de detecção de metal, 20 aparelhos de Raio-X de bagagem de mão e 10 aparelhos de Raio-X para o porão de bagagens.

A estatal conta com um programa que permite ao passageiros acompanhar, por meio de um monitor na sala de embarque, o trajeto da mala do pátio até a esteira de bagagem. O "De Olho na Mala" começou a ser implementado em agosto de 2011 no Galeão, um mês depois do início da investigação da Polícia Civil no aeroporto.

Anac e Infraero disseram que responderam ao questionamento do Ministério Público, mas disseram que não era possível revelar o conteúdo do documento.

CÂMERA NO PORÃO

O relatório da Polícia Civil sugere que boa parte dos problemas seria resolvido se as companhias aéreas instalassem câmeras nos porões dos aviões. "As poucas que possuem não registram ocorrências de tais delitos", diz o relatório. Segundo a polícia, a eficiência das câmaras se comprova pelo fato de que as companhias que não registram ocorrências realizam os serviços de bagagem com os mesmos funcionários terceirizados que atendem as empresas aéreas que não dispõem de câmeras e registram furtos.

De acordo com a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), nenhum país exige a instalação de câmeras no porão. Os aviões com câmeras geralmente vêm com o equipamento instalado de fábrica, como item opcional, e a motivação é a segurança de voo, não patrimonial.

Para Ronaldo Jenkins, diretor de segurança e operações de voo da Abear, além do alto custo, a instalação de câmeras demandaria muito tempo. "A câmera é até barata, mas há uma enorme complexidade em termos de cabeamento e alimentação elétrica e tudo seria passível de homologação."

Ainda que os casos estejam ficando cada vez mais comuns, quadrilhas de furto de malas não são privilégio do Brasil. "Recentemente prenderam um funcionário do departamento americano de transporte e segurança envolvido numa quadrilha que furtava malas", diz Jenkins.


Endereço da página:

Links no texto: