Folha de S. Paulo


Comerciantes dizem que vão resistir e ficar na Feira da Madrugada

Comerciantes da Feira da Madrugada, no Brás, dizem que vão ficar no espaço --considerado o maior shopping a céu aberto da América Latina-- amanhã à noite (8), quando a prefeitura ocupará o terreno para fazer uma reforma.

Na semana retrasada, o prefeito Fernando Haddad (PT) atendeu a uma recomendação do Ministério Público Estadual, que apontou alto risco de incêndio no terreno de 176 mil m², que pertence à União e desde 2004 é cedido provisoriamente à prefeitura. O decreto da prefeitura prevê a desocupação do local até o dia 9. A prefeitura disse que vai fazer contratação emergencial para a reforma --só na parte elétrica e hidráulica está previsto custo de R$ 1 milhão.

Ambulantes protestam na prefeitura contra fechamento da Feira da Madrugada
Reforma na Feira da Madrugada, em SP, deve levar até três meses

A feira tem aproximadamente 4.500 boxes e recebe cerca de 25 mil clientes de vários Estados diariamente, entre as 2h e 14h. "Sabemos que a reforma tem que ser feita, mas ela pode acontecer depois que a feira fechar. Como a gente vai ficar sem trabalhar por dois ou três meses [tempo previsto para a reforma]?", disse o dono de boxes Mario Ye, diretor da Copercom (Cooperativa do Comércio Popular de São Paulo), uma das cinco associações de comerciantes que atuam ali. "A feira pode ficar aberta metade do dia e em reforma a outra metade".

"Todo mundo tem medo que não consiga voltar à feira depois que acabar a reforma. Não é certo fecharem sendo que há pelo menos 15 mil trabalhadores que dependem desse comércio", disse Luciano Fernandes, do sindicato dos ambulantes e microeempreendedores de São Paulo (Sindimei).

A prefeitura vem dizendo que a ocupação será pacífica e que os comerciantes estão conscientes de que a reforma é necessária. Os secretários Roberto Porto (Segurança Urbana) e Chico Macena (Subprefeituras) disseram que estão dialogando com os comerciantes há cerca de um mês para orientar da necessidade de reforma.

A feira foi criada em 2005, durante a gestão José Serra (PSDB), para acolher ambulantes ilegais que atuavam nas regiões da rua 25 de Março e do Brás.

Desde 2011, a Polícia Civil e o Ministério Público investigam esquemas de corrupção dentro da feira. Boxes eram vendidos por até R$ 500 mil, segundo a polícia.

O ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) chegou a fechar o espaço para cadastrar todos os comerciantes que trabalhavam ali. Houve uma série de protestos. De 6.000 boxes que existiam sobraram cerca de 3.500 boxes. Porém, muitos que foram retirados por falta de documentação conseguiram voltar por meio de liminar na Justiça.

Comerciantes denunciaram que novos boxes foram construídos e vendidos a comerciantes chineses. Em novembro passado, a prefeitura anunciou que construiria ali um shopping popular com hotéis no entorno. A gestão atual quer manter o projeto.


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