Folha de S. Paulo


'Primeiro vem a vida, depois a apuração', diz perito sobre socorro de PMs a baleados

A movimentação do corpo de uma pessoa baleada pode prejudicar as investigações e, em alguns casos, inviabilizar a descoberta dos autores de um crime, segundo o perito Gustavo Dalton, da Associação Brasileira de Criminalística. Ele discorda, porém, da norma implantada em janeiro pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.

"Parece que não é muito sensata [a norma]. Muitas vezes o policial é o primeiro a chegar na cena. Se tiver uma pessoa ferida, ninguém vai socorrer? Em alguns casos, se a vítima não for socorrida em cinco minutos, ela pode morrer. Para a Justiça, descobrir quem é o autor de um crime é menos importante que salvar uma vida ", diz Dalton, que atua em Brasília.

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Desde janeiro, policiais não podem socorrer uma vítima com ferimentos graves. O policial passa a ser obrigado a chamar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mesmo que tenha participado da ocorrência.

Editoria de Arte/Folhapress

Isso vale para crimes como homicídio, tentativa de homicídio e lesão corporal grave. Além de preservar a cena do crime, a iniciativa pretende assegurar o atendimento às vítimas por profissionais habilitados, como médicos e socorristas.

Nesta segunda-feira, a Folha revelou que, três dias após a norma entrar em vigor, policiais ignoraram a regra e prestaram socorro ao saber que um ferido era PM. O caso ocorreu em Moema (zona oeste de São Paulo) e foi registrado por uma câmera de segurança.

"Esse caso é muito claro. Se for um conhecido de um policial que chegou no local, é óbvio que ele vai fazer o atendimento, ele não vai ficar esperando. Acho que nenhum policial faria isso [não socorrer] mesmo diante de uma punição", diz Dalton.

Vídeo

OUTRO LADO

A Folha mostrou o vídeo para a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo na sexta-feira (3). Deixou, inclusive, cópia dele com os assessores de Fernando Grella, a fim de embasar pedido de entrevista sobre o episódio ocorrido em Moema em janeiro.

A secretaria, entretanto, preferiu emitir nota oficial em que afirma já ter aberto "investigação para apurar as circunstâncias das ocorrências relatadas pela reportagem da Folha de S.Paulo".

Segundo a secretaria, "se houve erros ou condução irregular dos policiais neste episódio, eles serão punidos após a devida investigação".

A nota oficial diz que a "resolução 5, de 2013, determina a preservação da cena do crime para garantir melhores condições de investigação. Também recomenda que o resgate das vítimas de agressões e crimes seja feito por serviços especializados, nas cidades onde eles estejam presentes".

Até a conclusão desta reportagem a secretaria não respondeu se os policiais chamaram o resgate para o baleado.


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