Folha de S. Paulo


Lúcia Toledo de Souza Santos (1930-2013) - O piano e os quadros de Lúcia

Quando soube que Lúcia Toledo de Souza Santos largaria o conservatório para se casar, a professora de piano ficou fula da vida. Considerava a menina uma ótima aluna e queria vê-la formada. Mas não conseguiu impedi-la.

Filha de um farmacêutico e de uma dona de casa, Lúcia casou-se aos 17 anos. Havia conhecido, numa volta com a tia pela rua, um cientista, 16 anos mais velho que ela. Ele se apaixonou e a pediu em casamento. Ela topou e foi viver com Marcello Damy de Souza Santos, um dos pioneiros da física no Brasil, que deu aula na USP, PUC e Unicamp.

Ficaram mais de 60 anos casados, e a música não se perdeu. Nos anos 80, o casal montou um grupo com familiares para tocar música renascentista em casa. Lúcia ia ao piano; Marcello, na flauta.

A sobrinha Suzana, também flautista no grupo, lembra do dia em que ensaiavam no terraço da casa dos tios, quando uma aglomeração se formou na calçada. Ao final do ensaio, foram aplaudidos.

Mas Lúcia não foi pianista. Foi pintora. Chegou a expor na Europa. Retratava casarios, ruas, igrejas, cenas de candomblé, crianças empinando pipa ou jogando bolinhas de gude.

Era sociável e caridosa, como conta Gracia, amiga do grupo de chá que estudou piano com ela. Sônia, sua fisioterapeuta e amiga, lembra que Lúcia era vaidosa. Acordava e ia para a penteadeira.

Cuidou do pai, da mãe e do marido, morto em 2009, aos 95, de falência de órgãos, após mais de um ano internado devido a um acidente vascular cerebral. Morreu na terça (30), aos 82, em decorrência de insuficiência pulmonar e de um AVC. Não teve filhos.

coluna.obituario@uol.com.br


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