Folha de S. Paulo


Polícia ouve equipe de hospital sobre mortes após ressonâncias

A Polícia Civil em Campinas (93 km de São Paulo) voltará na segunda-feira (29) a tomar depoimentos de profissionais do hospital onde três pacientes morreram após passarem por exames de ressonância magnética, em janeiro deste ano.

Falha humana causou mortes em exames de ressonância, diz polícia
Polícia descarta que mortes tenham sido criminosas

A polícia afirma que ainda é preciso entender as responsabilidades da equipe do hospital Vera Cruz antes de apontar responsáveis no inquérito.

As mortes foram causadas pela aplicação de um produto errado nos pacientes, no lugar de soro, como afirmou o delegado José Carlos Fernandes da Silva na quinta-feira (25).

Uma auxiliar de enfermagem recém-contratada encontrou perfluorocarbono em uma gaveta e o preparou como se fosse soro.

A investigação aponta que o perfluorocarbono estava guardado em uma embalagem de soro reutilizada --o que é proibido em hospitais-- e sem identificação.

A auxiliar não fez a aplicação, como divulgado na quinta. As injeções foram aplicadas por outros dois profissionais que, segundo Silva, não puderam perceber a diferença, pois o soro e o perfluorocarbono são "idênticos" na transparência e na consistência.

O produto é usado na indústria para diferentes fins --da linha de produção de cosméticos à detecção de vazamentos, segundo a polícia.

No hospital, era utilizado em alguns procedimentos de ressonância para melhorar a visualização de imagens, porém sem ser injetado.

EXPERIMENTAL

Além disso, afirma Silva, o produto era usado "em caráter experimental" --o que exigiria que o hospital seguisse um protocolo estabelecido pelo Conselho Nacional de Saúde para experimentos.

O delegado afirma que enviou ofício ao hospital para esclarecer a questão e aguarda resposta.

Foram injetados dez mililitros em cada paciente. As vítimas --dois homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher, de 25-- morreram no hospital cerca de meia hora após os exames. Elas tiveram embolia gasosa (formação de bolhas no sangue), causada pelo perfluorocarbono.

OUTRO LADO

Procurado, o hospital Vera Cruz informou que quem deveria responder é a empresa RMC (Ressonância Magnética Campinas), responsável pelos exames.

Segundo o inquérito policial, o hospital detém 50% das ações da empresa RMC. A outra metade pertence a um médico do próprio hospital.

Em nota, o hospital afirmou que "não tem ingerência na gestão administrativa, técnica, operacional e científica da empresa".

A RMC afirmou, também por meio de nota, que "analisa todos os questionamentos oriundos do processo" e que responderá à imprensa na próxima semana.


Endereço da página:

Links no texto: