Folha de S. Paulo


Chefe das investigações do caso Eliza Samudio será interrogado hoje

O julgamento de Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, entra no terceiro dia nesta quarta-feira (24) no Fórum de Contagem (MG). O delegado e vereador Edson Moreira, que presidiu o inquérito no caso da morte de Eliza Samudio, será ouvido no plenário.

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Na época do crime, em 2010, ele era chefe do Departamento de Investigações. Além dele, o jornalista José Cleves, que foi indiciado pelo delegado Moreira sob a acusação de ter matado a mulher, em 2000, também será ouvido hoje. Ele foi absolvido no julgamento. Cleves não tem nenhuma relação com o caso Eliza, mas foi convocado pela defesa na estratégia de desacreditar Moreira.

A expectativa é de que o réu seja ouvido amanhã. Em seguida, serão feitos os debates entre acusação e defesa.

O promotor Henry Castro saiu em defesa dos delegados da Polícia Civil de Minas Gerais responsáveis pelo inquérito sobre a morte de Eliza, a ex-amante do goleiro Bruno Fernandes.
Segundo ele, a defesa de Bola tenta transformá-los em "anti-heróis'.

A estratégia da defesa de Bola é desqualificar o trabalho da polícia afirmando que há perseguição ao ex-policial. O argumento principal que ela usa é o não indiciamento do policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, que fez várias ligações para os envolvidos no crime no dia da morte de Eliza.

O advogado Ércio Quaresma contestou com insistência o trabalho policial no depoimento da delegada Ana Maria Santos, na segunda-feira (22). Pretende repetir a estratégia hoje durante o depoimento de Moreira. Foi o delegado quem comandou todos os delegados que trabalharam no caso. Ele e Quaresma se tornaram desafetos ao longo do tempo.

COMPETÊNCIA

Para o promotor, contudo, a defesa de Bola "não está sabendo trabalhar com competência" e, ao chamar como testemunhas delegados e o Corregedor-Geral da Polícia Civil, Renato Teixeira, expõe para o júri "elementos que ainda mais incriminam o seu assistido".

Ao tentar desqualificar o trabalho dos delegados, disse o promotor, o advogado disse que Quaresma tenta "inverter as posições, tenta se colocar como o herói que ele não é e tenta transformar os heróis, aqueles delegados abnegados que colheram as provas nas primeiras fases de toda essa percepção criminal, nos anti-heróis".

O promotor pediu investigações complementares e, após a conclusão desse trabalho, deve denunciar Zezé, conforme tem dito. Outro policial também está sendo investigado.

Castro disse que que o envolvimento de Zezé não exclui o de Bola, pelo contrário. "A Promotoria só determinou as investigações complementares com relação a esse sujeito [Zezé] e a outros elementos porque está certa da responsabilidade de Marcos Aparecido dos Santos", afirmou.

Segundo o promotor, Zezé se valeu da sua condição de policial para monitorar os primeiros passos da investigação do sequestro do bebê filho de Eliza, em junho de 2010.

Ele disse que Zezé avisou Bola minutos antes de a polícia estourar o sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde o bebê esteve.

Segundo o promotor, logo após ser avisado por Zezé, Bola passou mensagem para Macarrão, que alertou a ex-mulher de Bruno, Dayanne Souza, para tirar a criança imediatamente do sítio, antes da chegada dos policiais.

"O ponto de partida para que se justifique essa investigação suplementar está fincada na convicção dessa Promotoria das responsabilidades tanto de Bola e Macarrão", afirmou Castro.

DEPOIMENTOS

Ontem (23), o corregedor-geral da Polícia Civil de Minas Gerais, delegado Renato Patrício Teixeira, complicou a situação de Bola ao relacioná-lo ao desaparecimento e supostos assassinatos de dois homens em 2008. Ele foi a última testemunha a depor ontem.

Também foi ouvido ontem o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas, que afirmou que o goleiro "não creditou nenhuma responsabilidade a Macarrão" nas vezes em que se encontrou com ele.

A chamada de Ângelo para depor foi uma tentativa da defesa de Bola desfazer a versão dada pelo goleiro durante seu julgamento. Na ocasião, ele afirmou que o ex-policial foi o contratado por Macarrão para matar Eliza.

Antes dele, foi ouvido o preso Jailson Oliveira, que chegou a ficar no mesmo pavilhão de Bola na prisão, durante dois meses, em 2011, afirmou ter ouvido o réu dizer que queimou o corpo de Eliza em um pneu e jogou as cinzas em um lago.

Ao término do depoimento dele, a defesa de Bola pediu que ele Jailson fosse indiciado por mentir durante do depoimento, mas o pedido foi negado pela juíza.

Esse é o terceiro conselho de sentença formado no caso do desaparecimento e morte de Eliza. Ela desapareceu em junho de 2010. Apesar de seu corpo nunca ter sido encontrado, a Justiça expediu a certidão de óbito de Eliza no início deste ano.

Anteriormente foram julgados Luiz Henrique Romão, o Macarrão, ex-secretário do goleiro, e Fernanda Castro, ex-namorada do jogador. Depois deles foram julgados Bruno e sua ex-mulher, Dayanne Souza --a única absolvida.


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