Folha de S. Paulo


Análise: Observação de dados deveria embasar debate sobre o tema

São raras as pesquisas, como a divulgada hoje, que sustentam percentuais tão elevados de tendência sobre determinado assunto.

93% dos paulistanos querem redução da maioridade penal
Maioria em São Paulo apoia punições mais duras para jovens
Enquete: Legislação brasileira deve reduzir maioridade?

A taxa dos que se colocam a favor da redução da maioridade penal no país sempre foi majoritária, mas os 93% alcançados agora são um recorde paulistano.

O caso Victor Deppman leva a quase totalidade da população a reforçar, de maneira contundente, a defesa por uma mudança da legislação para qualquer tipo de crime.

Há concordância expressiva, inclusive, com a manutenção da ficha criminal dos adolescentes para o futuro.

Mas uma das variáveis da pesquisa desperta a atenção justamente por dividir a opinião. Quando se apresenta aos entrevistados a possibilidade de desenvolvimento de políticas públicas específicas para a redução da criminalidade entre os jovens como alternativa à diminuição da maioridade penal, 42% optam pela primeira e 52% pela segunda proposta.

Entre os mais jovens o resultado se inverte --50% contra 46%, respectivamente.

Tal dado pode levar luz à compreensiva emoção que domina o debate sobre o tema e seus reflexos na opinião pública. Geralmente abordado como consumidor, o jovem no Brasil não enxerga credibilidade nos canais tradicionais de participação política e é pouco ouvido enquanto cidadão.

Os raros estudos de caráter social realizados com esse segmento revelam que o jovem brasileiro, ainda mergulhado em desigualdades, pede educação de qualidade, inclusão no mercado de trabalho, formas adequadas de participação e solução para um dos aspectos que mais o preocupa --a violência.

Para ilustrar a informação, segundo a pesquisa DNA Paulistano de 2012, um dos itens pior avaliados pelo paulistano continua sendo as ações para jovens, inclusive no Belém, onde aconteceu o episódio recente e onde moravam tanto Deppman quanto seu assassino.

Ainda de acordo com o levantamento feito no ano passado, dos 96 distritos da cidade, o Belém foi um dos bairros onde mais cresceu, em quatro anos, o índice que mede o risco de violência entre seus moradores (subiu 11 pontos contra uma queda de seis no total do município).

Entre os que residem no distrito, a taxa dos que se sentem muito inseguros ao andar nas ruas do bairro, por exemplo, passou de 19% em 2008 para 32% em 2012.

Números não são frios e deveriam pautar, ao menos em parte, o debate sobre a redução da maioridade penal. Em posições opostas, esse emaranhado estatístico acompanhava aqueles dois jovens no dia 9, quando ocorreu o crime.


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