Folha de S. Paulo


Cartilha de MT para Copa chama cidade de 'atoleiro' e 'fim de mundo'

O conteúdo de um site de humor, com palavrões e menções agressivas a municípios de Mato Grosso, foi parar nas páginas de uma cartilha distribuída pelo governo do Estado aos alunos de um curso de hotelaria e turismo para a Copa do Mundo de 2014.

Os textos, originalmente publicados na página da Desciclopédia --paródia da Wikipédia e com conteúdo expressamente falso-- constavam do módulo de história e geografia de Mato Grosso.

Um dos trechos diz que o município de Cáceres foi fundado por "índios tabajaras, freiras lésbicas celibatárias e fugitivos de um circo de horrores holandês" e só recebeu as primeiras notícias sobre as invenções "da roda e do fogo" no início do século 20.

A cidade, localizada na fronteira com a Bolívia, é descrita como a "maior e mais rica cidade da Bolívia em Mato Grosso". A cartilha afirma que, como o país vizinho "só aceita dentro do seu território pobreza e miséria, Cáceres foi cedida ao Brasil".

Já a cidade de Barão de Melgaço, no Pantanal, é chamada de "c... de mundo" e "atoleiro inóspito". "Atualmente, é só mais um brejo fétido no oeste do Brasil", aponta a cartilha.

O material diz ainda que Poconé, também no Pantanal, fica "no fim do mundo" e foi reconhecida pela Unesco por ter "o relevo mais maltratado" do planeta.

REVOLTA E SABOTAGEM

A descoberta do conteúdo causou revolta nos municípios citados. Representantes de Câmaras Municipais marcaram uma reunião na noite de terça-feira (16) para redigir um documento de repúdio.

O programa de qualificação é bancado pela Secretaria Estadual de Trabalho e Assistência Social, comandada pela primeira-dama do Estado, Roseli Barbosa. Ela assina um texto na primeira página da publicação no qual descreve a iniciativa como um instrumento "para a inclusão e ascensão social".

Procurada, a secretaria apenas encaminhou uma nota assinada pelo Instituto Concluir, entidade responsável pela edição da cartilha e aplicação dos cursos.

"Em levantamento preliminar, pode-se constatar que houve sabotagem no material didático, em apenas 40 livros, numa dimensão de mais de 7.000 livros", disse, em um trecho, o presidente da entidade, Edvaldo de Paiva.

Na nota, o instituto diz assumir "toda e qualquer responsabilidade pela elaboração do material" e pede "desculpas aos municípios e munícipes, que de alguma forma sentiram-se ofendidos com o teor das informações".

A secretaria não informou quanto foi o valor gasto com a publicação. Segundo o portal de pagamentos do governo estadual, o instituto recebeu anteontem um pagamento de R$ 633 mil referente ao convênio de qualificação.


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