Folha de S. Paulo


Júri sobre morte no Carandiru é suspenso; réus serão ouvidos na 4ª

O segundo dia do julgamento do massacre do Carandiru foi suspendo por volta das 21h desta terça-feira. O júri será retomado na manhã de quarta ainda na leitura das peças processuais. No mesmo dia deve ser iniciado o interrogatório dos 26 PMs acusados pelo crime.

Acompanhe o julgamento do massacre ao vivo
A necessidade da entrada da PM era 'incontestável', diz ex-secretário
'Ordem para entrar no Carandiru foi necessária e legítima', diz Fleury
Desembargador diz que houve excesso da PM na invasão do Carandiru
Desembargador diz não ter visto presos sendo executados em massacre

Segundo o Tribunal de Justiça, a interrupção do júri ocorreu devido ao horário, mas pelo áudio da sala de imprensa foi possível ouvir que alguém envolvido no andamento do processo havia sido medicado. Não foi dito, porém, quem. Na semana passada, o julgamento foi adiado no primeiro dia após uma jurada passar mal.

Foram ouvidos nessa terça, seis testemunhas de defesa. Entre elas estava o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho, que afirmou durante os 40 minutos de depoimento que "a ordem para a entrada [no presídio do Carandiru] foi absolutamente necessária e legítima", apesar de não ter ordenado a invasão.

"Não dei ordem de entrada na cadeia, mas se estivesse no meu gabinete, teria dado. A entrada [da polícia] era extremamente necessária", afirmou o ex-governador. "Quando soube das mortes, afastei de imediato os comandantes da ação e pedi que o Ministério Público apurasse os fatos", completou.

2º DIA

Além de Fleury, foi ouvido também o ex-secretário de segurança de São Paulo Pedro Franco de Campos. Ele afirmou que "a necessidade de entrada da Polícia Militar na Casa de Detenção era absolutamente incontestável.

Campos disse que foi informado pelo coronel Ubiratan Guimarães de que era necessário invadir o pavilhão 9 do Complexo do Carandiru devido à rebelião que acontecia no local. Segundo ele, as autoridades temiam que o confronto entre presos se estendesse também para o pavilhão 8. "Havendo necessidade, o senhor está autorizado a entrar", disse ele ao coronel que comandou a invasão.

Foi ouvida ainda a juíza Sueli Zeraik Armani, convocada pela defesa para falar de rebeliões em presídios do Estado. O depoimento durou cerca de dez minutos.

Mais cedo foi ouvido o desembargador Luiz Augusto San Juan França, que afirmou ter havido confronto entre presos e policiais no dia da invasão. A afirmação contradiz as testemunhas ouvidas ontem, que afirmavam ter havia agressão por parte dos PMs. "Na nossa sindicância, sei que havia policiais feridos, mas não me recordo se por arma de fogo", afirmou ele.

Já tinha sido ouvido ainda o desembargador Fernando Antonio Torres, juiz da Corregedoria dos presídios na época do massacre. Ele também voltou a dizer que houve ataque dos presos contra os PMs, mas destacou que houve excesso na ação da Polícia Militar durante a invasão do local.

"Uma coisa é entrar, outra é resultar em 111 mortes. Não há nexo", afirmou Torres. "Era necessário ingressar, mas não era necessário o resultado obtido." Torres disse que, quando entrou no pavilhão 9, sangue escorria pelas escadas.

Mais cedo, um dos juízes que participaram das reuniões que autorizaram a entrada da tropa, hoje o desembargador Ivo de Almeida, disse que não viu nenhum preso sendo executado pelos PMs durante o massacre de 1992, como afirmou ontem (15) o ex-diretor do Carandiru Moacir dos Santos.

Almeida afirmou ainda que a entrada da PM foi necessária porque a unidade estava fora de controle. "Nossa preocupação era manter a integridade física deles. Poderia haver uma carnificina lá dentro", disse.

Editoria de Arte/Folhapress
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