Folha de S. Paulo


Irmã de PM fala sobre possível arma usada em morte de juíza em gravação

A Promotoria apresentou nesta terça-feira, durante o julgamento sobre a morte da juíza Patrícia Acioli, uma gravação telefônica em que a irmã do cabo da PM Carlos Adílio Maciel Santos fala a um ex-companheiro sobre uma possível arma que teria sido usada no crime.

Na ocasião, Santos estava preso preventivamente pela morte de um rapaz no Complexo do Salgueiro --a juíza Acioli era responsável pelo caso. O telefone dele estava grampeado devido às investigações, mas como estava com a irmã dele, Glaucia Maciel Santos, acabou registrando a conversa.

Na ligação, feita após uma ação policial na casa de Santos, o ex de Glaucia pergunta sobre "as armas" e a jovem afirma que a família já "limpou tudo". Ele questiona ainda sobre uma moto e ela responde que não há nenhum moto, segundo a Promotoria, numa tentativa de encerrar o assunto.

Nada foi localizado na operação da polícia na casa da família do PM, mas armas e uma moto foram localizados posteriormente em uma outra operação policial.

CRIMES

Mais cedo, o delegado da Divisão de Homicídios na ocasião, Felipe Ettore, Adílio participava da quadrilha que arrecadava espólios (extorsões e propinas de traficantes) de R$ 11 mil por semana nos complexos de favelas da Coruja e do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana.

Segundo a promotoria, o cabo também é suspeito de participar de outros oito crimes; entre eles, dois autos de resistência e um homicídio durante suposto confronto no Complexo do Salgueiro --julgado pela juíza Patrícia Acioli.

Adílio negou em juízo qualquer participação na morte da magistrada. Ele ainda riu do promotor Leandro Navega ao ser interrogado se o ex-comandante do Batalhão de São Gonçalo, Cláudio Oliveira, estaria pagando as despesas do seu advogado de defesa do crime de homicídio no Complexo do Salgueiro.

Efe
A magistrada Patrícia Acioli foi morta com 21 tiros quando chegava em casa após o trabalho; crime foi planejado depois que a juíza iniciou investigações sobre a corrupção no Batalhão de São Gonçalo
A magistrada Patrícia Acioli foi morta com 21 tiros quando chegava em casa, em Niterói

JULGAMENTO

O julgamento começou por volta das 9h desta terça-feira no 3º Tribunal do Júri de Niterói (RJ). Santos é um dos 11 PMs suspeitos de envolvimento no crime e responde por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha armada.

Em janeiro deste ano, a Justiça do Rio condenou três policiais por participação no crime, também por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha. Eles receberam penas distintas, todas em regime de reclusão inicialmente fechado.

O cabo Jefferson de Araújo Miranda foi condenado a maior pena, 26 anos de prisão. O cabo Jovanis Falcão foi condenado a 25 anos e seis meses, e o soldado Junior Cezar de Medeiros, a 22 anos e seis meses.

Em dezembro de 2011, ocorreu o julgamento do primeiro réu, o cabo da PM Sérgio Costa Junior, um dos executores do crime. Costa Junior decidiu colaborar com as investigações, e obteve o beneficio da delação premiada. Ele teve a pena reduzida em 15 anos, e foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado.

Carlos Adílio, os quatro já condenados e os seis policiais suspeitos de participação aguardam decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre recurso em relação ao julgamento. Entre os apontados como mentores do crime estão: o ex-comandante do Batalhão de Polícia Militar de São Gonçalo, o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva, e o tenente Daniel Santos Benitez Lopes, que ainda serão julgados --sem data prevista

Patrícia Acioli era responsável pelo Tribunal do Júri de São Gonçalo. Ela foi assassinada com 21 tiros na porta de casa em um condomínio em Piratininga, na região oceânica de Niterói, quando voltava do fórum. A juíza tinha 47 anos de idade e era conhecida por atuar no combate a crimes cometidos por milicianos e policiais.


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