Folha de S. Paulo


A necessidade da entrada da PM era 'incontestável', diz ex-secretário

O ex-secretário de segurança de São Paulo Pedro Franco de Campos afirmou nesta terça-feira que "a necessidade de entrada da Polícia Militar na Casa de Detenção era absolutamente incontestável". Ele foi a quinta pessoa a depor nesse segundo dia de julgamento sobre a morte de 111 presos em 1992.

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Campos disse que foi informado pelo coronel Ubiratan Guimarães de que era necessário invadir o pavilhão 9 do Complexo do Carandiru devido à rebelião que acontecia no local. Segundo ele, as autoridades temiam que o confronto entre presos se estendesse também para o pavilhão 8. "Havendo necessidade, o senhor está autorizado a entrar", disse ele ao coronel que comandou a invasão.

O ex-secretário, que hoje é procurador de Justiça, disse não saber se a facção PCC surgiu por conta do massacre. "Depois que saí [da secretaria] não tive interesse em segurança pública nem em assuntos penitenciários", completou.

Depois dele foi ouvida ainda a juíza Sueli Zeraik Armani, convocada pela defesa para falar de rebeliões em presídios do Estado. O depoimento durou cerca de dez minutos. O julgamento então foi interrompido e deve ser retomado ainda hoje com o interrogatório dos 26 PMs réus do processo.

TESTEMUNHAS

Antes do ex-secretário, o ex-governador de São Paulo prestou depoimento a e afirmou que "a ordem para a entrada [no presídio do Carandiru] foi absolutamente necessária e legítima.

"Não dei ordem de entrada na cadeia, mas se estivesse no meu gabinete, teria dado. A entrada [da polícia] era extremamente necessária", afirmou o ex-governador. "Quando soube das mortes, afastei de imediato os comandantes da ação e pedi que o Ministério Público apurasse os fatos", completou.

Mais cedo foi ouvido o desembargador Luiz Augusto San Juan França, que afirmou ter havido confronto entre presos e policiais no dia da invasão. A afirmação contradiz as testemunhas ouvidas ontem, que afirmavam ter havia agressão por parte dos PMs. "Na nossa sindicância, sei que havia policiais feridos, mas não me recordo se por arma de fogo", afirmou ele.

Já tinha sido ouvido ainda o desembargador Fernando Antonio Torres, juiz da Corregedoria dos presídios na época do massacre. Ele também voltou a dizer que houve ataque dos presos contra os PMs, mas destacou que houve excesso na ação da Polícia Militar durante a invasão do local.

"Uma coisa é entrar, outra é resultar em 111 mortes. Não há nexo", afirmou Torres. "Era necessário ingressar, mas não era necessário o resultado obtido." Torres disse que, quando entrou no pavilhão 9, sangue escorria pelas escadas.

Mais cedo, um dos juízes que participaram das reuniões que autorizaram a entrada da tropa, hoje o desembargador Ivo de Almeida, disse que não viu nenhum preso sendo executado pelos PMs durante o massacre de 1992, como afirmou ontem (15) o ex-diretor do Carandiru Moacir dos Santos.

Almeida afirmou ainda que a entrada da PM foi necessária porque a unidade estava fora de controle. "Nossa preocupação era manter a integridade física deles. Poderia haver uma carnificina lá dentro", disse.

Editoria de Arte/Folhapress
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