Folha de S. Paulo


'Ordem para entrar no Carandiru foi necessária e legítima', diz Fleury

O ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho prestou depoimento nesta terça-feira e afirmou que "a ordem para a entrada [no presídio do Carandiru] foi absolutamente necessária e legítima". A invasão do prédio ocorreu em 1992, quando ele ocupava o cargo de governador, e resultou na morte de 111 presos.

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Desembargador diz que houve excesso da PM na invasão do Carandiru
Desembargador diz não ter visto presos sendo executados em massacre

Fleury foi a quarta pessoa a ser ouvida nesse segundo dia de julgamento e falou por cerca de 40 minutos. Nesse tempo ele disse que a decisão pela invasão do presídio cabia ao secretário de segurança da época, na época do massacre, Pedro Franco de Campos, que será ouvido também na tarde desta terça-feira.

"Não dei ordem de entrada na cadeia, mas se estivesse no meu gabinete, teria dado. A entrada [da polícia] era extremamente necessária", afirmou o ex-governador. "Quando soube das mortes, afastei de imediato os comandantes da ação e pedi que o Ministério Público apurasse os fatos", completou.

Ao ser questionado sobre a relação do Massacre do Carandiru com o surgimento da facção PCC, Fleury afirmou: "Se usa essa justificativa para dar glamour à criação do PCC". "PCC era um time de futebol. Ele se intensificou durante as rebeliões ocorridas no governo do meu sucessor", afirmou.

Mais cedo foi ouvido o desembargador Luiz Augusto San Juan França, que afirmou ter havido confronto entre presos e policiais no dia da invasão. A afirmação contradiz as testemunhas ouvidas ontem, que afirmavam ter havia agressão por parte dos PMs. "Na nossa sindicância, sei que havia policiais feridos, mas não me recordo se por arma de fogo", afirmou ele.

Já tinha sido ouvido ainda o desembargador Fernando Antonio Torres, juiz da Corregedoria dos presídios na época do massacre. Ele também voltou a dizer que houve ataque dos presos contra os PMs, mas destacou que houve excesso na ação da Polícia Militar durante a invasão do local.

"Uma coisa é entrar, outra é resultar em 111 mortes. Não há nexo", afirmou Torres. "Era necessário ingressar, mas não era necessário o resultado obtido." Torres disse que, quando entrou no pavilhão 9, sangue escorria pelas escadas.

Mais cedo, um dos juízes que participaram das reuniões que autorizaram a entrada da tropa, hoje o desembargador Ivo de Almeida, disse que não viu nenhum preso sendo executado pelos PMs durante o massacre de 1992, como afirmou ontem (15) o ex-diretor do Carandiru Moacir dos Santos.

Almeida afirmou ainda que a entrada da PM foi necessária porque a unidade estava fora de controle. "Nossa preocupação era manter a integridade física deles. Poderia haver uma carnificina lá dentro", disse.

Editoria de Arte/Folhapress
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